terça-feira, 28 de agosto de 2012

Hoje deixei de ser livreiro...

Há mais de um mês recebi um telefonema que vai mudar o curso profissional da minha vida. Isso implica deixar de ser livreiro e sair da actual loja onde trabalho: Almedina Arrábida Shopping.

Passei pela Leitura, pela Fnac, pela Almedina. Todas muito diferentes. Em objectivos, em filosofias e métodos de trabalho. E, claro está, em públicos.

Um dia gritei sobre o que é ser livreiro, profissão que amei, mas que é bem mais difícil do que as pessoas imaginam: http://www.blogclubedeleitores.com/2012/03/o-grito-do-livreiro.html

Não tenho muito a acrescentar ao que escrevi na altura. Mas tenho que falar um pouco das pessoas e experiências que tive.

Dizer apenas que conheci pessoas fascinantes por todos os sítios onde passei. Fiz mais amigos do que conhecidos. Aprendi imenso com os mais experientes e ajudei o melhor que podia / sabia a quem chegou de novo. Tive momentos muito bons e momentos maus. Mas o saldo é muito mais positivo do que negativo.

Sou um misto de várias influências. Adorava saber 1/10 do que sabe o Sérgio Pereira que trabalhou na Leitura de Ceuta. Ter o espírito e a visão comercial do Bruno Henriques da Leitura do Bom Sucesso. Ter lido tantos livros como o José Duarte Pereira da Fnac de Guimarães - para mim o melhor livreiro com menos de 30 anos a trabalhar no Norte de Portugal. Liderar uma equipa como o Pedro Leal da Almedina - mais que conhecimento, é um 'Ás' na gestão emocional das equipas.

São alguns exemplos (entre outros) de pessoas que amam o que fazem. Que sabem o que estão a vender. Que lêem e estudam. Que praticam (ou praticaram) a "arte de ser livreiro". E que sentem real prazer no que fazem. Se posso dizer que tenho modelos, sem dúvida que estes 4 foram os que me marcaram mais.


A melhor equipa será sempre a que abriu a loja Leitura do Bom Sucesso - que mais tarde integrou outros elementos. Ainda hoje lhes ligo, apareço, conservo verdadeiras amizades.

Já estive em casa de muitos deles. Sempre tentei (nos outros sítios por onde passei) repetir a fórmula da "amizade" no local de trabalho. A Leitura foi a minha grande escola e eu carreguei alguns hábitos do que aprendi. Procurámos sempre resolver os conflitos de forma directa, pensar a loja em conjunto, celebrar os resultados alcançados. Ajudar com palavras amigas, criticar quando tem que ser.

A Guimarães, sempre que posso, regresso e faço quilómetros para lhes dar um abraço. Tanto aos livreiros como aos restantes colegas de outros departamentos. Só lá vivi 2 meses e meio. Mas a cidade marcou-me e adoptou-me. As minhas raízes familiares cruzaram-se com a possibilidade de lá trabalhar. Assinei um contrato de abertura de loja e não me arrependo nada em ter ido. 

Na Almedina guardo bons amigos. Visitei quase todas as lojas (de Norte a Sul). Encontrei grandes profissionais e gente que percebe imenso disto. Nunca trabalhei tanto como neste grupo. Não só "trabalho de loja", mas também a pensar a empresa. Mérito do Pedro Leal que sempre espevitou e procurou desenvolver a minha capacidade criativa. Muitas coisas ficaram por fazer. Felizmente algumas passaram.

Fiz de clientes... verdadeiros amigos! Alguns transitaram comigo de aventura em aventura. Emocionei-me ao despedir-me de certas pessoas e lojas. Tenho quem siga os meus passos. Levo livros a casa de pessoas e familiares. E os livros unem-nos. Sempre será assim.

Foi uma honra trabalhar como livreiro. Foi um prazer vestir a camisola de cada sítio. E agora chegou a hora de deixar a profissão e abraçar algo totalmente diferente...

Não morre o amor pelos livros. Não morre a vontade de falar deles. Não desaparece a vontade em lutar pela sua sobrevivência num mundo cada vez mais tecnológico. Sentimentos intocados.

Saí hoje. Comprei o «50 Poemas» de Tomas Tranströmer (Relógio D'Água). Foi a última compra enquanto profissional. Amanhã passarei a cliente.

Obrigado por tudo.


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