terça-feira, 28 de agosto de 2012

1º Parágrafo: A Tia Julia e o Escrevedor


Nesse tempo remoto, eu era muito jovem e vivia com os meus avós numa quinta de paredes brancas da Rua Ocharán, em Miraflores. Estudava em San Marcos, Direito, creio, resignado a mais tarde ganhar a vida com uma profissão liberal, ainda que, no fundo, tivesse gostado mais de chegar a ser um escritor. Tinha um trabalho de título pomposo, salário modesto, apropriações ilícitas e horário elástico: director de Informação da Rádio Pan-Americana. Consistia em recortar as notícias interessantes que apareciam nos jornais e maquilhá-las um pouco para que fossem lidas nos noticiários. A redacção, sob as minhas ordens, era um rapaz de cabelo empastado e amante de catástrofes chamado Pascual. Havia noticiários de hora a hora, de um minuto cada, excepto os do meio-dia e das nove, que eram de quinze, mas nós preparávamos vários ao mesmo tempo, de modo que eu andava muito na rua, a tomar cafezinhos na Colmena, às vezes ia às aulas, ou então estava nos escritórios da Rádio Central, mais animados que os do meu trabalho.


* Tradução de Cristina Rodriguez


Sem comentários:

Enviar um comentário