segunda-feira, 13 de agosto de 2012

1º Parágrafo: A Solidão dos Inconstantes


Lembro-me da primeira vez que o vi. Lembro-me do dia. Lembro-me da hora. Lembro-me do calor daquele dia cinzento que acabou em trovoada de Verão. Lembro-me das nuvens a empurrarem-se umas às outras. Lembro-me da água, gotas gordas, anafadas, pesadas, mornas, carregadas, a cair em subtil violência. Um fim de tarde de silêncio e trovões. Uma descarga de água sobre uma terra quase a arder. Lembro-me dos óculos castanhos de massa. Lembro-me da t-shirt verde musgo que lhe dançava no corpo. Lembro-me dos ténis castanhos, com atacadores azul-marinho, lembro-me que cheirava a terra molhada, lembro-me que tinha cortado um dedo a descascar uma maçã. Como é que é possível eu lembrar-me dos atacadores, da cor dos atacadores. Há coisas mesmo ridículas.


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