Lembro-me da primeira
vez que o vi. Lembro-me do dia. Lembro-me da hora. Lembro-me do calor daquele
dia cinzento que acabou em trovoada de Verão. Lembro-me das nuvens a
empurrarem-se umas às outras. Lembro-me da água, gotas gordas, anafadas,
pesadas, mornas, carregadas, a cair em subtil violência. Um fim de tarde de silêncio
e trovões. Uma descarga de água sobre uma terra quase a arder. Lembro-me dos óculos
castanhos de massa. Lembro-me da t-shirt verde musgo que lhe dançava no corpo.
Lembro-me dos ténis castanhos, com atacadores azul-marinho, lembro-me que
cheirava a terra molhada, lembro-me que tinha cortado um dedo a descascar uma
maçã. Como é que é possível eu lembrar-me dos atacadores, da cor dos
atacadores. Há coisas mesmo ridículas.
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