O hospital em que trabalhava era o mesmo a que muitas vezes na infância
acompanhara o pai: antigo convento de relógio de junta de freguesia na fachada,
pátio de plátanos oxidados, doentes de uniforme vagabundeando ao acaso tontos
de calmantes, o sorriso gordo do porteiro a arrebitar os beiços para cima como
se fosse voar: de tempos a tempos, metamorfoseado em cobrador, aquele Júpiter
de sucessivas faces surgia-lhe à esquina da enfermaria de pasta de plástico no
sovaco a estender um papelucho imperativo e suplicante:
- A quotazinha da Sociedade,
senhor doutor.
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