sexta-feira, 6 de julho de 2012

Gerrit Komrij: descoberta póstuma

Descoberta póstuma, chamou-lhe alguém por estes dias. Por mim, faço-me eco.
Nunca ouvira ou lera o nome de Gerrit Komrij antes dele merecer um obituário, que morreu ontem. Ao que parece é nome grande na Holanda. E vivia desde os anos 80 por cá, praticamente incógnito, primeiro numa pequena aldeia perdida de Trás-os-Montes, mais tarde em Vila Pouca da Beira, ali para o concelho de Oliveira do Hospital.
Ao que parece, era um pró-classissista na forma e um anti-lírico no conteúdo.
Ao que parece, a sua poesia revela um humor sarcástico, cáustico, polémico.
Ao que parece, recebeu o maior prémio de poesia da Holanda em 1993.
Ao que parece. Hei-de descobri-lo melhor um destes dias. Para já, in memoriam, fica um poema seu, traduzido por Fernando Venâncio.

 "Máscaras

O homem com a máscara brincando
Até chegar a hora em que o seu rosto
Partilhava com ela uma só vida:
Já miúdo a história me punha indisposto.

Negava-me a aceitar. Quando crescesse,
Ia mostrar que outra maneira havia:
Que cada máscara, sem dor ou risco,
Como um capuz tirar-se podia.

Fiz disso muito tempo um firme credo.
Escondi, confiante, a minha natureza.
Extinto o fulgor do jogo que eu fazia,
Teria ela a original pureza.

Hoje sou velho, só para admitir:
A história é real. A máscara agarrou-se´.
É como habituares-te ao inferno.
Como se olhar vazia cova fosse.
"

Gerrit Komrij (30.03.1944 - 05.07.2012)
 

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