sábado, 7 de julho de 2012

António Pinho Vargas e o estado da Europa.....

O conhecido compositor e pianista António Pinho Vargas deixou esta nota na sua página do facebook - que achei digna de reflexão, mesmo não tendo directamente a ver com livros. É sempre uma opinião interessante, passível de ser discutida. 

"Ou me engano muito ou temos mesmo que nos preparar para o pior no que respeita à Europa, ao euro, à austeridade e às suas tremendas consequências na vida das pessoas no seu todo. As consequências - que são tremendas para quem atravessa dificuldades económicas, despedimentos, saídas das casas, falências de empresas e famílias, etc. - infelizmente não se limitam a estes aspectos, já de si catastróficos. Ferem de forma devastadora também as nossas próprias subjectividades mais íntimas, mais próximas do cerne do nosso ser, assustam-nos e enlouquecem-nos. Afectam-nos no nosso trabalho, no nosso comportamento, na nossa lucidez já trémula que resta.

Começo a ter dificuldade em ler os jornais - leitor que sou há muitos anos - face à repetição do mesmo tipo de notícias em variantes cada vez mais assustadoras. A simples repetição é, já de si, assustadora que chegue. Porque significa que os mesmos argumentos continuam válidos um, dois ou três anos depois, de um lado e de outro. Por vezes, surge um texto, um pensamento que ilumina, ou parece iluminar, mas que se revela incapaz de mudar. Em geral, há a mera repetição das análises enquanto, ao mesmo tempo, parece haver trincheiras já escavadas onde só faltam os soldados de 1914-18, para relembrar o mais absurdo começo de uma guerra: todos os países foram para a guerra de uma forma festiva, convencidos da vitória fácil e rápida. Países europeus, repletos de artistas, filósofos, escritores, militantes de direita, militantes de esquerda e sindicalistas. De repente, tudo isso passou para segundo plano e veio um fervor nacionalista que estava latente e semi-oculto . O homem-animal que gosta de se olhar como animal-racional, muitas vezes, é apenas um animal-pouco-racional. A sua estrutura antropológica desfaz a sua construção cultural de séculos num instante fatal e regressa um ser primitivo, capaz dos maiores horrores, das maiores atrocidades. Nem é preciso relembrar Auschwitz, porque, já depois, em poucos anos, vizinhos, parentes, amigos de café dos países da ex-Jugoslávia, passaram para primeiro plano questões religiosas ou identitárias e começaram a matar-se uns aos outros.

Já estivemos mais longe disso e a tal estrutura cultural de base não parece ser capaz de se sobrepor às divergências que vão aumentando. Quando há crises económicas e demográficas - é o caso - a história diz-nos que, as mais das vezes, se resolvem com guerras. E à custa do rol de horrores inimagináveis que sempre as acompanham. Já estivemos mais longe."

*Para quem quiser conhecer Pinho Vargas no mundo dos livros, já aqui falamos de alguns deles: http://www.blogclubedeleitores.com/2012/01/antonio-pinho-vargas-vence-premio-jose.html

Sem comentários:

Enviar um comentário