A pequena Marta viveu na grande casa de família como se estivesse em
permanente exílio, como se do quarto de sua mãe a tivessem levado para
longínquos quartos e não soubesse a razão e o tempo da mudança. Também a
pequena alma de Marta, à força da crueldade mortal desses corredores e quartos,
se exilava a pouco e pouco na Natureza viva. O testemunho dessa entrega, muito
variado e longo, desde os cuidados dispensados aos pequenos coelhos nas luras,
esfregando as mãos com funcho para que a mãe não os enjeitasse, até à
contemplação imóvel de qualquer das árvores ou ervas é, em parte, este relato.
“Este é um
romance desconcertante, que reclama do leitor uma espécie de despojamento
compreensivo, uma aceitação sem preconceitos, das narrativas primordiais, como
se o mundo pudesse voltar a ser concebido numa linguagem eminentemente
simbólica e um saber trágico, próprio do mito, estivesse a ser descoberto pela
primeira vez.”
António
Guerreiro, Expresso 08-08-1998
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