segunda-feira, 16 de julho de 2012

1º Parágrafo: O Outono em Pequim


Amadis Dudu seguia sem convicção nenhuma pela estreita ruela que representava o atalho mais longo para chegar à paragem do autocarro 975. Todos os dias tinha de apresentar três bilhetes e meio, pois descia, com o autocarro em andamento, antes da paragem; tacteou o bolso do colete para ver se ainda tinha algum bilhete. Sim. Viu um pássaro empoleirado num monte de lixo, a bicar em três latas de conserva vazias o que conseguia reproduzir o início dos Barqueiros do Volga; parou, mas o pássaro deu uma fífia e, furioso, levantou voo, resmungando, entre bico, umas obscenidades à pássaro. Amadis Dudu retomou o caminho, cantando o resto da música; mas deu também uma fífia e começou a praguejar.


* Tradução de Luísa Neto Jorge
* Na contracapa da 2ª Edição francesa pode ler-se “Esta obra não trata, naturalmente, nem do Outono, nem da China. Qualquer relação com estas coordenadas espaciais e temporais seria uma mera coincidência involuntária.”
* Barqueiros do Volga é uma música tradicional russa





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