Quero morrer entre livros, não nos corredores frios de um
hospital entre o público e o privado, entre o fim e a indignidade.
Quero morrer onde possa olhar-lhes as lombadas e gastar o último fôlego na memória dos momentos que lhes estão associados.
Quero chamar os amigos até mim e, um a um, indicar-lhes que volume retirar da estante, um bocadinho de mim na herança entregue em vida.
Depois, vazia, quero que desmontem a estante e, com ela construam o caixão que me levará às cinzas.
Quero morrer onde possa olhar-lhes as lombadas e gastar o último fôlego na memória dos momentos que lhes estão associados.
Quero chamar os amigos até mim e, um a um, indicar-lhes que volume retirar da estante, um bocadinho de mim na herança entregue em vida.
Depois, vazia, quero que desmontem a estante e, com ela construam o caixão que me levará às cinzas.
Isto se a estante for uma ‘Shelves for Life’, assinada pelo jovem
criador britânico William Warren - designer de móveis com uma perspectiva conceptual
e um toque de bom humor - e apresentadas em 2005, durante o Festival de Design
de Londres. Generoso, até hoje ele continua a fornecer as instruções de
construção a quem lhas pedir acrescentando os seus dados biométricos.
O conceito é simples: uma estante em boa madeira, pensada
para durar uma vida inteira – e seguir connosco na morte, uma vez que as várias
peças de que é composta formam um caixão. Uma opção económica, ecológica e
absolutamente brilhante.
Claro que depois da versão design, surge sempre outra para
consumo geral. E a empresa norte-americana Last Things apresentou a Estante
Caixão. Na prática uma espécie de malão a que basta retirar as prateleiras
interiores e fechar.
Em estilo ou na versão menos cool, por mim estou nesta de ir
para o outro mundo nas tábuas que foram a minha estante. E, como diria Mário de
Sá-Carneiro, a um morto nada se recusa.
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