sábado, 9 de junho de 2012

Pulsar na Deriva com o ILC Margarida Losa


No próximo domingo, dia 10 de Junho, pelas 17h30, a Feira do Livro do Porto vai receber no auditório da APEL, uma conferência com o tema "Para que serve a Poesia hoje" com base e ponto de partida para discussão, a partir desta colecção publica em parceria da Deriva Editores e do ILC Margarida Losa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

A colecção Pulsar, dirigida pelo Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, inclui textos relevantes em torno da literatura e de outras artes. Estes pequenos livros, que se podem ler numa viagem de comboio ou a uma mesa de café, pretendem emitir um sinal luminoso, sentidos de um pensamento, fulgurações de palavras. Como os enigmáticos e distantes pulsares.

Na  Pulsar, foram já editados Jean-Pierre Sarrazac (com A Invenção da Teatralidade seguido de Brecht em Processo e O Jogo dos Possíveis), Pascal Quignard (com Um Incómodo Técnico em Relação aos Fragmentos), Antoine Compagnon (com Para que serve a Literatura?), Jean-Claude Pinson (Para que serve a poesia hoje) e Stéphane Mallarmé (Crise de Versos).


Vergonha da poesia?

Mas a «miséria» da poesia não é só caso de marginalidade económica e social. Ela resulta, talvez mais fundamentalmente, das dificuldades que tem hoje, mais do que outras artes, em desfazer-se dos clichés que não só mancham a representação que dela se tem comummente, como a atulham a si própria nas suas tentativas de evoluir. Daí um mal-estar que pode ir até à auto-repulsa: já ninguém se atreve a afirmar-se poeta, como se se tivesse vergonha da imagem que a corporação projecta muitas vezes de si própria. E, de facto, pieguice, velharia, sentimentalismo, grandiloquência, afectação de uma pose recolhida, logomaquia, excesso de obscuridade com vista à intimidação do leigo: tantos defeitos que contribuem para esse mal-estar que, mais cedo ou mais tarde, qualquer um pôde experimentar ao assistir a leituras de poesia.
Jean-Claude Pinson, in PARA QUE SERVE A POESIA HOJE?


Crise de Versos, de Stéphane Mallarmé (trad. Rosa Maria Martelo e Pedro Eiras), ed. bilingue, é o título mais recente desta colecção.

Elíptico, extremamente condensado, interrogando tudo quanto poderia distinguir a poesia dos usos comuns da linguagem, o texto de Crise de Versos é, ao mesmo tempo, um diagnóstico e uma profecia. Por um lado, procura surpreender a dissolução de versos tradicionais, em particular do alexandrino (o verso oficial por excelência), ao longo da segunda metade do século XIX e sobretudo após a morte de Victor Hugo. Diagnóstico difícil de uma experimentação formal então ainda em curso: o que nos surge hoje como conquista definitiva e já distante (em termos de livre invenção de metros, cesuras, formas gráficas) era no tempo de Mallarmé um acontecimento recente, plural, a necessitar com urgência de teorização. Por outro lado, Crise de Versos antecipa as poéticas dos modernismos e das primeiras vanguardas, ao enfatizar a produtividade da tensão entre a busca de um princípio construtivo, que asseguraria a impessoalidade, e a dissolução das formas canónicas.

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