"Basta,
aliás, perder algum tempo diante do televisor para que se torne claro que a
celebridade é, hoje, um direito universalmente reconhecido a qualquer indivíduo
disposto a abdicar da privacidade e do decoro. Mesmo o mais boçal dos cidadãos
pode alcançar o seu momento de estrelato instantâneo, bastando-lhe tão só, que
aceite expor-se ao ridículo ou partilhar com a audiência uma história, real ou
inventada, que suscite simpatia, horror ou comiseração. O público é um animal
voraz e está constantemente necessitado de novos ídolos e ícones, gente, enfim,
na qual possa concentrar a inesgotável capacidade humana para amar, admirar e
odiar.
Se não for liminarmente ignorado, como sucede na maior parte dos casos, um livro, real ou inventado, não serve senão para ser também admirado ou detestado e, com ele, o indivíduo que o tenha escrito. Perde-se tempo a lê-lo e, ao contrário com o que sucede com uma pintura ou uma escultura, não serve, sequer, para ser colocado numa parede ou no canto de uma casa, não tem qualquer serventia decorativa e o seu préstimo enquanto alimento da vaidade do proprietário é praticamente nulo.
Um livro é
um puro exercício de vaidade de quem o escreve, um acto onanista e fútil. Salvo
raras excepções, não cria nenhuma riqueza ou um emprego que seja, nem sequer do
próprio escritor, que terá de marrar noutra actividade qualquer, a menos que se
satisfaça em sobreviver como um vadio comum. Um livro também não deve entreter
ou divertir, sob pena de ser banido pelo circunspecto concílio dos
especialistas como algo superficial e pouco sério."
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