segunda-feira, 11 de junho de 2012

Diz que é uma espécie de homenagem!


Ora pois parece que afinal a Feira do Livro do Porto tem um homenageado. Fernando Guimarães, mas dele e porque na verdade é ele mesmo que mais importa já se fala mais à frente. Para já uma pequena nota. Então não é que para descobrir que a Feira tem um homenageado temos que entrar no pavilhão da APEL? Totalmente deslocado das actividades da Feira, este singelo pavilhão fechado, que recebe umas conferências e uns lançamentos e o ponto chave da homenagem. Depois de se passar a porta pode-se ver uma foto do dito e uma breve biografia. Claro está: temos mesmo que entrar no pavilhão que é a coisa mais acessível da Feira, ou se calhar não!

E sem ser entrando no pavilhão? Pois é se lerem com atenção, mas mesmo com muita atenção todo o programa, reparam que há uma sessão na segunda página da qual se pode presumir que é aquele tipo o homenageado.

Gente de pouca atenção é o que somos!
Não sei se devo ficar chocado ou rir. Deve ser provavelmente a pior homenagem e as piores formas de homenagear alguém que já vi na minha vida!

E agora e sem tentar ser pretensioso... aqui fica a nossa homenagem a este senhor da poesia portuguesa!

Fernando Guimarães
nasceu no Porto, em 1928. Publicou em 1956 vários livros de poesia e ensaio, tendo alargado também a sua actividade à ficção e ao teatro. Os seus livros de ensaio referem-se à literatura portuguesa desde o século XIX à actualidade e a questões relacionadas com a estética e a filosofia da arte. Com regularidade faz crítica literária, inicialmente em Colóquio/Letras e, depois, no J.L. – Jornal de Letras, onde assina uma “Crónica de Poesia”. Em 2006 foi-lhe atribuído pela Universidade de Évora o Prémio de Ensaio Vergílio Ferreira, tendo em vista o conjunto da sua obra ensaística. Trabalhou como investigador no Centro de Literatura da Universidade do Porto e, presentemente, integra o Conselho Científico e é membro investigador do Centro de Estudos do Pensamento Português da Universidade Católica Portuguesa. Recebeu os prémios de tradução de poesia da Fundação Calouste Gulbenkian e Paulo Quintela da Faculdade de Letras de Coimbra. Obras de poesia e ensaio suas receberam vários prémios literários, nomeadamente da Associação Portuguesa de Escritores, do Pen Clube e da Associação Internacional de Críticos Literários.

A sua obra é de tal forma vasta que enunciar seria uma lista imensa. Mas nada melhor que as suas próprias palavras, as poéticas é claro e numa entrevista em três partes.


Post Coitum Animal Triste

Em ti o poema, o amplo tecido da água ou a forma
do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada
do desejo, a sua extensão e principias a entregar
os vasos alongados para receberes as mãos das chuvas.

Apagaram-se junto dos teus olhos as praias, as árvores
que se ergueram um dia sobre as estradas romanas,
o vestígio dos últimos peregrinos, aves nuas
que já desceram, cansadas, pelo interior do teu peito.

Uma voz, no silêncio calmo das águas, esquece
a mentira das primeiras colheitas, onde os nossos gestos
perderam os sorrisos ou o orvalho que os cerca.

Serenamente, começaram a fechar-se os sonhos de Deus
no interior de novos frutos e, abandonado, fico
junto do teu corpo, onde principia a sombra deste poema.


Encontro

Ficava ali, por muito que se estranhe
a luminosidade em que se mostra
uma outra superfície, a que nos há-de
aproximar daquilo que contorna

este limite.  Assim era o desígnio
que vinha de uma idade quase extrema
porque seria a vida nela um límpido
espaço que nos une sempre à mesma

vontade de cumprir o que no corpo
pudesse ser igual ao movimento
capaz de recordar o leve assomo

das mãos.  E surpreendemos o que há muito
se conservava apenas no sereno
encontro de nós mesmo, que era tudo.


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