quinta-feira, 7 de junho de 2012

Chuva na Primavera, a poesia tornada realidade

Pois nada mais a propósito do que descobrir a Oriente algo que tanto se adapta à nossa realidade actual. "Regados" pelas chuvas que têm andado por aí a inspiração leva-nos até Li Shang-Yin, (812?-858) viveu na fase de decadência da dinastia Tang, que irá sobreviver-lhe apenas cerca de cinquenta anos. Herdeiro dessa notável tradição poética, ele consegue admiravelmente aquilo que é um dos grandes segredos da poesia chinesa: a descoberta, sem ruptura e sem ruído, de uma voz original.


Um dos maiores poetas chineses, usava nos seus poemas finas e subtis metáforas, que tornam deliciosas as múltiplas interpretações dos seus temas. Entre os primeiros a encarar e escrever sobre o tema do amor em poema na lingua chinesa, embaraçava de uma forma inédita os seus interpretadores, em épocas bem mais contidas do que a actual, que não sendo conservadores tinham alguns pruridos. No entanto não deixam de encarar a sexualidade de uma forma muito aberta que também marca muita da literatura.

Em Portugal publicado pela Assírio & Alvim, Li Shang-Yin, poeta chinês do século IX, chega-nos com "Chuva na Primavera e Outros Poemas" numa belíssima tradução de José Alberto Oliveira.


"O regresso foi promessa vã, partiste, sem deixar rasto;
O luar desliza sobre o telhado, já soa a quinta hora.
Sonho de despedidas longínquas, apelos ignorados,
Apresso-me a terminar a carta, mas a tinta não espessa.
A luz da vela semi-cerca águias-marinhas bordados exalam.
O jovem Liu queixa-se que a Montanha dos Imortais é longe.
Depois da Montanha, cimo após cimo, dez mil montanhas se levantam."

"Muitas cortinas na tua casa sem cuidados,
Onde o êxtase dura uma noite inteira.
Não serão as vidas dos anjos apenas sonhos,
Se nos seus quartos não entram os amantes?
Tempestades arrebatam os ouriços,
O orvalho da lua adoça as folhas da canela
- Sei que nada pode resultar deste encontro,
Mas como ele alegra o meu coração!" 

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