terça-feira, 15 de maio de 2012

a-ver-livros: Ela sou eu

Ela sou eu. Quero mil páginas mas o dia pesa. O livro pesa. Os olhos pesam e o sono acaba por ganhar. Ela sou eu. E provavelmente tu. E é assim que os quadros de Joseph Lorusso se tornam parte de nós.


Quanto mais os olhamos mais as mulheres que lêem, que liam e adormeceram, livro caído a seu lado, que sorriem ao de leve enquanto passam página após página, a chávena do café a arrefecer ali tão perto, somos nós. Presas numa intemporalidade suave e acolhedora, romântica até, elas/nós vivem/os nos traços clássicos que o pintor adoptou para as traduzir.


De Joseph Lorusso - o homem que assim se apodera de nós sem nos conhecer - pouco reza a história que nos chega. Com 45 anos, este descendente de italianos nascido em Chicago e a viver no Kansas, casado e pai de uma menina pequena, primeiro designer da famosa marca de postais Hallmark e agora professor numa escola de artes local, teve a sorte de, na infância e adolescência, ser levado a visitar a Itália paterna e os museus que acolhem os grandes mestres da pintura. 


 Do que a internet nos permite vislumbrar, é um norte-americano como tantos outros, um homem alto e algo desajeitado que trocou a vida desregrada de solteiro pela devoção familiar e está feliz com isso. Uma única frase dele me salta à vista: "Acredito profundamente que a grande arte serve como gatilho para algo realmente profundo dentro de cada um de nós". 


Se a sensação de reconhecimento que tenho quando as/me vejo nestes quadros não é mesmo isso, pois parece.


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