"Deu-se então nele uma reviravolta de comportamento que
os mestres atribuíram à infinita misericórdia divina e os colegas ao medo das
constantes punições. Para contentamento geral, começou a calar-se. Não foi de
repente. Não foi assim: deitei-me pássaro e acordei carneiro. Houve um encurtar
progressivo da sua voz. Deixou de insistir nas perguntas. Guardou o sublinhar
das evidências. Trocou a interrogação sistemática dos cantos que não encaixavam
nas histórias apresentadas pela ideia de que nem todos os puzzles se terminam à
primeira. E que acabaria por descobrir a verdade, mais cedo ou mais tarde. Uma
condescendência temporária começou a formar-se sobre a sua pele antes lisa.
Quando alguma coisa não o convencia e o questionamento a esse propósito parecia
ameaçar de incêndio o cérebro docente, ele calava-se. E a expectativa que
sempre geravam as suas discordâncias entre os colegas (por nenhuma outra razão
que não fosse o quebrar do aborrecimento da cátedra) começou a baixar, até que
Mário se tornou um estudante igual aos outros. Ou quase."
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