Como se todos os dias fosse morrer,
olhava para a lua,
e desafiava o sol,
a despachar-se.
Tinha os pecados em dia,
não fumava,
não bebia,
não roía as unhas,
comia vegetais
e vegetava.
Nunca cometeu a imprudência
de ir para o mar sem fazer a
digestão.
Em dias de sol
usava um chapéu laranja ridículo,
no Inverno, um cachecol laranja,
também ridículo.
E tinha uns olhos de uva
e uns lábios de pêssego,
que a cada Inverno apodreciam,
o frio e a humidade, queixava-se,
fermentando o medo,
que com toda a força sufocava
com o cachecol laranja.
Uns olhos de uva
e uns lábios de pêssego
que por ninguém colher,
que por ninguém querer,
a cada Verão
murchavam, mirravam
e morriam,
apesar do chapéu laranja
com que evitava todas as pontas do sol.
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