terça-feira, 8 de maio de 2012

Imaginários Corvos de Sangue

"Imaginários Corvos de Sangue é um livro violento, a que ninguém poderá ficar indiferente.
A mim transportou-me para o mundo dos sonhos e dos fantasmas, numa vertigem que se prolongou para além da leitura. E se por vezes me incomodou como o tumulto do mar em fúria, também me envolveu na suavidade e quietude de muitos momentos de serenidade.
Por tudo isto, o leitor que feche os olhos e se deixe envolver nestes sonhos de Pedro Vieira Magalhães.”

do prefácio por Daniel Sampaio



O autor / poeta Pedro Vieira Magalhães nasceu em Guimarães. Conquanto a sua vida tenha sido passada nesta cidade, o mundo rural acompanhou-o desde tenra infância, pois manteve uma ligação afectiva muito forte com a sua avó e as origens paternas. Aliás, como é possível sentir ao ler este conjunto de poemas tão viscerais como a própria terra. Conheço-o desde que nasceu e poderia escrever algumas linhas sobre si, mas penso que ele foi quem melhor se descreveu no seguinte poema:

"Nasci a 20 de Março de 1981 e morri a 20 de Março de 1981.
São cinco horas da manhã, mais uma vez não consegui dormir!
Deambulo pela casa, como um barco abandonado num mar de mim.
Os passos arrastados ecoam pelo palato da casa e vou coçando o nariz e o peito, num trejeito de quem se esquece do seu nome. Repito-o várias vezes – Pedro, Pedro, Pedro, Pedro – e cada vez me parece mais distante... esse nome que finge ser meu, que finge ser eu e se veste da minha pele.
Encho um copo de água e bebo-o de uma só vez. O silêncio é terrível! Onde estão os Homens com os segredos da floresta na palma das mãos?! A grande coruja branca e o voo celeste que carrega no dorso?! Os Mestres, os aprendizes, as alucinações, o medo; as orações subterrâneas de uma cripta em flor?!
Vai dormir, Pedro. Porquê essa inquietação?! Porquê esse viver depois da vida?! Esse morrer respirado que encontras na seiva de cada pensamento, no ópio telúrico de cada palavra?
Amor e morte. Tudo o resto fulge, para depois desaparecer!
E a escrita aparece, normalmente pela madrugada; bela mulher errante com Primaveras de fogo suspensas nos cabelos e o perfume das flores apunhalado.
Seremos todos Serpentes! Teremos línguas de fogo e o poder da cura em cada escama.
Nos olhos guardaremos os delírios da noite, muito antigos! E o sopro silvestre do crepúsculo incendiará os amores perdidos pelas esquinas da cidade.
Uma luz ténue começa a invadir o céu. As árvores bamboleiam ao vento, lá fora, como majestosos pavões de clorofila.
Recolho-me novamente para o quarto com a perfeita noção que não cairei no sono.
Carrego a insónia ao colo, deito-a comigo na cama… beijamo-nos e não me lembro de mais nada."


Ainda de carácter autobiográfico, presenteia-nos com estes apontamentos poéticos:

"Enjoo-me de ser eu o ser dentro do eu que não sou."
e
"Não nasças esquerdino...
É o lado onde as borboletas nunca poisa."

Apesar do ambiente do livro lembrar um cenário cataclísmico, onde o sangue, as vísceras e a destruição nos rodeiam, não deixa de revelar um lado onírico que nos embala dentro deste caos.

"Vi um miúdo sentado na ponta de uma núvem...bem alto
Segurava uma cana, com a qual pescava todos os segredos do mundo."

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