quarta-feira, 16 de maio de 2012

Filip, a humilhação e a gaivota...




"A dor dura-lhe pouco tempo. Desaparece independentemente do que acontece, lentamente e sem grande espalhafato. Em vez disso, pensa na gaivota.
 O que quer ela? Como se pode saber isso? O que quer a Ida? Vejo a mesma coisa quando olho nos olhos da gaivota e nos da Ida. Não sei exatamente o que elas querem, mas entendo-as e sei que olham para mim. Não tenho tanto medo da Ida quanto da gaivota. Embora isso frequentemente doa. Mas não a mato por isso? Há que aguentar as coisas. Mas, e se não se conseguir aguentar? Sim, o Kalle tinha razão, há que, por fim, acabar com elas. Mas aguenta-se muito tempo. Depois, é como se se esquecesse que magoou. E esquece-se que o que magoa, magoa.
 Inclina-se em frente e pedala o mais que consegue. ouve o guincho dela, mas não a vê. Quando se vira para trás, ela flutua com o seu bico amarelo e as suas asas pretas e brancas um metro atrás da malinha da bicicleta.O coração dispara e ele continua a pedalar ainda mais depressa, sempre com um terror que lhe atravessa o corpo como água a cair. Vira-se para trás uma vez mais e vê-a abrir o bico e emitir um guincho.
 Que bonita que ela é, pensa ele com o coração na boca."

                                                     

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