terça-feira, 15 de maio de 2012

Citação do livro do mês - Héctor Abad Faciolince

Sobre as demonstrações de afecto de Pai ao filho. Existe uma fórmula? Um código deontológico? 

"Os meus amigos e os meus colegas riam-se de mim por causa de outro costume que havia em minha casa, mas nem todo esse escárnio conseguiu erradicá-lo. Quando eu chegava a casa, o meu pai, para me cumprimentar, abraçava-me, beijava-me, dizia-me um monte de frases carinhosas e, no fim, ainda dava uma gargalhada. A primeira vez que se riram de mim por causa «desse cumprimento de mariquinhas e de menino mimado» eu não esperava semelhante chacota. Até essa altura, estava convencido de que essa era a maneira normal e corrente de os pais cumprimentarem os filhos. Mas não, afinal na Antioquia não era assim. Um cumprimento entre machos, pai e filho, tinha de ser distante, bronco e sem afecto aparente.


Durante um tempo, evitei esses cumprimentos tão efusivos quando havia estranhos por perto, pois tinha vergonha e não queria que gozassem comigo. O mal era que, mesmo estando acompanhado, esse cumprimento me fazia falta, dava-me segurança e, por isso, ao fim de algum tempo de fingimento, resolvi deixar que me voltasse a cumprimentar como sempre, mesmo que os meus colegas se rissem e dissessem o que lhes apetecesse. Ao fim e ao cabo, esse cumprimento carinhoso era uma coisa dele, não minha, e eu apenas me limitava a aceitá-lo. Mas nem tudo foram piadas por parte dos meus colegas; lembro-me de que, uma vez, já quase no fim da adolescência, um amigo me confessou: «Sabes, eu sempre tive inveja de teres um pai assim. O meu nunca me deu um beijo na vida.»"

1 comentário:

  1. ...e era assim que devia de ser em todas as casas...que falta faz o toque, o abraço, os afectos na vida das crianças e de todos nós.

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