terça-feira, 15 de maio de 2012

Adeus Carlos Fuentes

Este ano tem sido absolutamente devastador para o mundo da Cultura, em especial para os livros. Carlos Fuentes morreu hoje no México.

Só lhe li «Aura», um livro que se lê num instante. "As imagens do sonho alteram a realidade ou a realidade vê-se contaminada pelo sonho. Aura é mais que uma intensa história de fantasmas: é uma lúcida e alucinada exploração do sobrenatural, um encontro dessa vaga fronteira entre a irrealidade e o tangível, essa zona da arte onde o horror gera a formosura." Falei muito ao de leve nele, aqui no blog (quando este espaço ainda vivia no primeiro mês).

Escritor ímpar, muitas vezes esquecido num segundo plano. Ganhou o prémio Cervantes em 1987 e o Prémio Príncipe das Astúrias em 1994. Viajante incansável, "estudou na Suíça e nos Estados Unidos da América. Foi embaixador do México na França. Lecionou em Harvard, Cambridge, Princeton e outras universidades norte-americanas de renome internacional. Viveu em outras grandes cidades como Quito, Montevideo, Rio de Janeiro, Washington DC, Santiago e Buenos Aires. Durante a sua adolescência voltou ao México, onde residiu até 1965."


Quase toda a sua obra está publicada pela Dom Quixote em Portugal. Com alguns títulos esgotados, como este Aura ou O velho Gringo. Muito recentemente, o autor vê um dos seus últimos livros a ser publicado pela Porto Editora. Chama-se Adão no Éden e saiu neste ano.

No destaque do jornal Público, “'Adão no Éden’ não é uma novela inovadora no tema, recorrente no trabalho de Carlos Fuentes”, escrevia Fernando Sousa no Ípsilon de 11 de Maio de 2012. “É possível encontrar os mesmos cenários e personagens semelhantes em ‘La tierra más transparente’, a sua primeira obra, de 1958, um texto que é uma espécie de inventário da sociedade mexicana; em ‘Artemio Cruz’ (1962), reflexões-à-beira da morte de um antigo revolucionário convertido num político de esquemas, corrupto e corruptor, que à hora de desaparecer conta o passado com a sinceridade própria de quem já não tem nada a perder; e em ‘La silla del Àguila’, nova radiografia do poder onde Fuentes imagina o seu país no ano 2020.”

E acrescentava o crítico: “Mas é na sua inspiração literária uma obra apoteótica no estilo que o autor adoptou para nos mostrar o que o México, o México sinistro, lhe mostrou a ele em mais de oito décadas, uma obra que remete por assim dizer para as inaugurais, as dos primeiros anos de escrita, quando a sua estrutura ainda se desenvolvia. Uma obra-mestra.”

Amigo Fuentes, irei voltar a ti sempre. As tuas palavras moram e vão morar comigo ao longo da vida. Já não eras um menino, mas podias ter ficado mais um pouco! Até sempre...

1 comentário:

  1. Nobre homenagem, Rodrigo. como escritor não era "a minha praia", mas muito bom era. Nem sempre gostamos do que é muito bom, por vezes gostamos do que é menos bom… mas o gosto não obsta que se reconheça onde está o que vale a pena. Era o caso.

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