Este ano tem sido absolutamente devastador para o mundo da Cultura, em especial para os livros. Carlos Fuentes morreu hoje no México.
Só lhe li «Aura», um livro que se lê num instante. "As imagens do sonho alteram a realidade ou a realidade vê-se contaminada pelo sonho. Aura é mais que uma intensa história de fantasmas: é uma lúcida e alucinada exploração do sobrenatural, um encontro dessa vaga fronteira entre a irrealidade e o tangível, essa zona da arte onde o horror gera a formosura." Falei muito ao de leve nele, aqui no blog (quando este espaço ainda vivia no primeiro mês).
Escritor ímpar, muitas vezes esquecido num segundo plano. Ganhou o prémio Cervantes em 1987 e o Prémio Príncipe das Astúrias em 1994. Viajante incansável, "estudou na Suíça e nos Estados Unidos da América. Foi embaixador do México na França. Lecionou em Harvard, Cambridge, Princeton e outras universidades norte-americanas de renome internacional. Viveu em outras grandes cidades como Quito, Montevideo, Rio de Janeiro, Washington DC, Santiago e Buenos Aires. Durante a sua adolescência voltou ao México, onde residiu até 1965."
Quase toda a sua obra está publicada pela Dom Quixote em Portugal. Com alguns títulos esgotados, como este Aura ou O velho Gringo. Muito recentemente, o autor vê um dos seus últimos livros a ser publicado pela Porto Editora. Chama-se Adão no Éden e saiu neste ano.
No destaque do jornal Público, “'Adão no Éden’ não é uma novela inovadora no tema, recorrente no trabalho de Carlos Fuentes”, escrevia Fernando Sousa no Ípsilon de 11 de Maio de 2012. “É possível encontrar os mesmos cenários e personagens semelhantes em ‘La tierra más transparente’, a sua primeira obra, de 1958, um texto que é uma espécie de inventário da sociedade mexicana; em ‘Artemio Cruz’ (1962), reflexões-à-beira da morte de um antigo revolucionário convertido num político de esquemas, corrupto e corruptor, que à hora de desaparecer conta o passado com a sinceridade própria de quem já não tem nada a perder; e em ‘La silla del Àguila’, nova radiografia do poder onde Fuentes imagina o seu país no ano 2020.”
E acrescentava o crítico: “Mas é na sua inspiração literária uma obra apoteótica no estilo que o autor adoptou para nos mostrar o que o México, o México sinistro, lhe mostrou a ele em mais de oito décadas, uma obra que remete por assim dizer para as inaugurais, as dos primeiros anos de escrita, quando a sua estrutura ainda se desenvolvia. Uma obra-mestra.”
Amigo Fuentes, irei voltar a ti sempre. As tuas palavras moram e vão morar comigo ao longo da vida. Já não eras um menino, mas podias ter ficado mais um pouco! Até sempre...
Nobre homenagem, Rodrigo. como escritor não era "a minha praia", mas muito bom era. Nem sempre gostamos do que é muito bom, por vezes gostamos do que é menos bom… mas o gosto não obsta que se reconheça onde está o que vale a pena. Era o caso.
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