domingo, 8 de abril de 2012

Notícias à Quinta: Senhora partem tão tristes





Senhora, partem tão tristes
Meus olhos, por sós, meu bem
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.

Assim escreveu João Roiz de Castelo Branco, no Sec. XVI, poeta Albicastrense que serve o mote à paisagem circundante. Jardim do Paço, ou Jardim das Estátuas, quando pergunto como se vai dali para o Castelo. “É por ali menina, é por ali. Se for nesta direcção encontra Miradouro de Gens. É perto, aqui tudo é perto, mas não vá a pé”. Realmente, com o mapa na mão, em Castelo Branco tudo parece perto, mas não permite a façanha de caminhadas à descoberta. Por isso a opção passa por eleger uma estátua, neste Jardim, sentar-me na escadaria e organizar os papeis, folhetos e apontamentos. A partir daqui estender o braço mais a Norte para me embrenhar no Fundão e direccionar o tronco em direcção a Este para escrever sobre Idanha-a-Nova. Mas comecemos por onde estamos. Jardim propício a exercitar o imaginário não fosse composto por estátuas e muito simbolismo. Estou aqui protegida por São Judas Tadeu porque não encontrei o Sol e resolvi não procurar mais.
À imagem esemelhança do que acontece pelo País inteiro, tenho-me apercebido, neste périplo, que as Bibliotecas Municipais têm-se dedicado, e bem, a dar cor ao plano nacional de leitura. Aqui, em Castelo Branco o apoio tem sido sobretudo às escolas nas suas próprias bibliotecas, incentivando os “cafés com livros”. Nada melhor do que o intervalo a meio da manhã para juntar ao café, um autor, uma leitura, uma apresentação. Quanto a espaços onde ir beber inspiração, este jardim é o eleito, se bem que suspeito que não será o único. Porém, ainda não me saiu da retina Idanha-a-Nova e, por isso, passo à descrição:

Idanha-a-Nova é, com metáfora ou sem ela, o lugar onde o céu está mais perto. Não há melhor cenário de inspiração do que a barragem, levando para ela todo o caminho percorrido, de estradas desenhadas a arvoredo com castanhos e verdes indistintos. Estrelas na cabeça. Fazer o quê que não escrever e muito? Inspirar o ar até ser a pele que grita e não os pulmões. É demais, é um paraíso muito bem guardado.Também aqui as iniciativas de leitura são promovidas pela Biblioteca Municipal em conjunto com as escolas. Não encontrei nenhum café com livros, não bebi café na Biblioteca mas, a par de toda esta paisagem que promove espasmos a qualquer amante da escrita, existe um sitio, o Centro Cultural Raiano onde encontramos desde a história à tradição dos trajes e cantares, à poesia local tão rica e ancestral. Tem um anfiteatro ao ar livre e fica a curiosidade de saber como vai decorrer o resto do ano. Perdi a peça Muito Riso, Muito Siso, uma amálgama de textos lusófonos devidamente humorados. Não muito longe da Idanha, a Senhora do Almortão lembra-nos um Zeca Afonso a entoar uma linda Raiana e percebe-se bem o pedido “virai costas a Castela, não queiras ser Castelhana”. Houvesse mais tempo e não saía daqui com a sensação que há muita ”letra” por explorar.

Subindo ao Fundão, a terra berço do meu Eugénio de Andrade, já aqui revisitado no Domingo passado, o conhecimento é outro e por isso a imprecisão não será tanta. O Fundão encanta-me não só por imaginar José Fontinhas a correr aqui em criança, tanto quanto a serra da Gardunha me assusta nas suas tonalidades. O Fundão é aquele sítio onde sei que os cafés sempre foram altifalantes de discussões literárias, braços de revolução, mãos de cerejas cheias. De um café Portugal de conversas proíbidas, a um Jornal que foi silenciado tal era abertura de espirito que respirava, nas mãos de uma família que lutou contra tudo o que pôde para manter a noção de liberdade e necessidade dela. O Jornal do Fundão e os Paulouro, o Casino do Fundão e as reuniões anti-regime. É quase quanto baste para voar no imaginário Tertuliano e percebê-los saídos de Coimbra na continuação da necessidade de escrever para não gritar alto demais Dá para imaginar uns quantos. Deste apontamento sigamos para a Biblioteca Municipal, a biblioteca Eugénio de Andrade. Pelo caminho, outro café com história, o Café-Cine, cheio de letras e imagens. Ficamos a saber que a III Feira do Livro Juvenil e infantil decorrerá até ao fim do mês iniciando-se amanhã. Encontramos agendada a iniciativa Hora do Conto, uma rúbrica igual à nossa: Autor do Mês. Damos conta de uma iniciativa interessante na promoção de leitura infantil, o projecto Biblo-caixas. Acima de tudo, como já referido, sabe bem perceber quanto se tem tentado promover leitura. Para mim, ao mesmo nível, mas sim, com outro encanto, basta-me imaginar o quanto os grandes beberam e respiraram de todos estes recantos e explodiram, em palavras, toda a retina guardada.

Na próxima quinta-feira a paragem é Portalegre. Vou ter um encontro imediato. Régio, quem mais? E Domingo sentar-me-ei, com calma, a partilhar.

Até lá.
*Fotgrafia: Jardim do Paço (das Estátuas)

1 comentário:

  1. Foi pena não ter subido ao castelo, pois do Jardim do Paço até lá, se está habituada a caminhar, não é longe.
    A fotografia do Jardim está muito interessante.
    Espero que tenha tido oportunidade de ver mais da cidade.
    Um abraço

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