quarta-feira, 28 de março de 2012

O Perdão e a Promessa, por Hannah Arendt


«Se não fôssemos perdoados, eximidos das consequências daquilo que fizemos, a nossa capacidade de agir ficaria por assim dizer limitada a um único acto do qual jamais nos recuperaríamos; seríamos para sempre as vítimas das suas consequências, à semelhança do aprendiz de feiticeiro que não dispunha da fórmula mágica para desfazer o feitiço. Se não nos obrigássemos a cumprir as nossas promessas não seríamos capazes de conservar a nossa identidade; estaríamos condenados a errar desamparados e desnorteados nas trevas do coração de cada homem, enredados nas suas contradições e equívocos - trevas que só a luz derramada na esfera pública pela presença de outros que confirmam a identidade entre o que promete e o que cumpre poderia dissipar. Ambas as faculdades, portanto, dependem da pluralidade; na solidão e no isolamento, o perdão e a promessa não chegam a ter realidade: são no máximo um papel que a pessoa encena para si mesma.»

in 'A Condição Humana'

1 comentário:

  1. Sou fã de Hannah Arendt.A sua escrita é fascinante.Cada palavra, cada parágrafo está cheio de substância que necessitamos para prosseguir em cada dia.Revela um realismo invulgar e com o qual me identifico.A.Celeste Vieira

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