terça-feira, 20 de março de 2012

Livros que deram filme: O Véu Pintado, Somerset Maugham

Somerset Maugham é um dos melhores escritores do século XX (embora a sua aventura pelas letras tenha iniciado no final do séc. XIX). Disso já sabia - experiência de livreiro e interessado pela literatura... Mas estranhamente nunca o comprovei. Tenho alguns livros aqui em casa na pilha dos «a-ler».

Entre eles, O Véu Pintado: a história que vos trago hoje e que me acaba de ser apresentada pelo grande ecrã. Depois de ter visto o filme, quase que me penitencio por nunca ter lido nada deste escritor. [Apesar de tudo, confesso que isso é sempre ultrapassado pela esperança de vir a ter vida suficiente para ler muito do que vou comprando ao longo dos anos. É bom guardar esta ideia: a de que ainda nos aguardam grandes romances...]

Maugham é o escritor completo. Dedica-se ao romance, à literatura de viagens, à crítica literária e ao teatro. Este livro é de 1925.


Curioso o facto de esta história ter dado origem a três filmes. O primeiro teve como grande estrela a sueca Greta Garbo em 1934. O segundo filme saiu em 1957, mas com um título diferente: "The Seventh Sin", com a actriz Eleanor Parker. Por último, em 2006 sai esta versão que hoje apresento - com Edward Norton e Naomi Watts nos principais papéis. Não só como personagens; entram ambos na sua produção.

Ao bom jeito de Hollywood, esta versão de O Véu Pintado tem uns toques sentimentais: o que foge ao roteiro traçado no livro de Somerset. Kitty (interpretada por Naomi Watts) acaba por se apaixonar pelo marido - algo que no livro não acontece.

Dirigido por John Curran, a beleza do filme passa pelas encantadoras imagens da região chinesa de Guangxi. O Dr. Walter Fane viaja para este local com a sua mulher para investigar as causas de uma grande epidemia de cólera. Pouco antes desta ousada aventura, descobre que Kitty lhe é infiel. Fica a ideia no ar que esta é "a paga" pelo adultério: ir viver para um sítio onde todos os dias morre gente pobre com esta doença devastadora e ainda pouco conhecida. O próprio investigador acaba por morrer dela... Mas a tempo de descobrir que a mulher traz no ventre um filho. No romance, a personagem sabe que é fruto do seu relacionamento fora do casamento. No filme, essa ideia fica no ar (levantando dúvidas de quem é o verdadeiro Pai).

O que mais emociona é o final. Muito por culpa de uma canção francesa que acabo de descobrir e que acompanha as filmagens magníficas destas paisagens chinesas - "À la claire fontaine." Uma música infantil francesa. Absolutamente bela.




"À la claire fontaine,
M'en allant promener
J'ai trouvé l'eau si belle
Que je m'y suis baigné

Il y a longtemps que je t'aime
Jamais je ne t'oublierai

Sous les feuilles d'un chêne,
Je me suis fait sécher
Sur la plus haute branche,
Un rossignol chantait

Il y a longtemps que je t'aime
Jamais je ne t'oublierai

Chante rossignol, chante,
Toi qui as le cœur gai
Tu as le cœur à rire,
Moi je l'ai à pleurer

Il y a longtemps que je t'aime
Jamais je ne t'oublierai

J'ai perdu mon amie,
Sans l'avoir mérité
Pour un bouquet de roses,
Que je lui refusai

Il y a longtemps que je t'aime
Jamais je ne t'oublierai

Je voudrais que la rose,
Fût encore au rosier
Et que ma douce amie
Fût encore à m'aimer

Il y a longtemps que je t'aime
Jamais je ne t'oublierai"



Só uma breve referência ao livro, que em Portugal é publicado pela Asa. Tenho que o descobrir. A sua sinopse diz o seguinte:

«Kitty sente-se prisioneira de um casamento infeliz e de um estilo de vida que está longe de ser aquele que sonhou para si. Sem que tivesse obtido a notoriedade social que desejava e afastada do seu país e da família devido à profissão do marido - bacteriologista destacado para Hong Kong -, a jovem acaba por encontrar algum consolo numa relação extraconjugal. Mas a traição acaba por ser descoberta pelo marido, que leva a cabo uma estranha e terrível vingança…

Através do despertar espiritual da adorável e fútil Kitty, Somerset Maugham pinta um retrato vívido da presença britânica na China e apresenta-nos uma galeria de personagens inesquecíveis.»

3 comentários:

  1. Já li vários livros dele (inclusive o do filme) e gostei muito. Apesar de ter lido primeiro o livro, gostei também do filme (e da alteração em relação ao que está no livro quanto aos sentimentos da personagem feminina) e gostei muito da música.

    ResponderEliminar
  2. Eu vi o filme primeiro,chorei aos montes no final,e apesar de saber que no livro a Kitty não se apaixonava pelo marido,eu arrisquei lê-lo.me encantei com a sensibilidade da escrita do autor.Os dois(filme e livro)se tornaram os meus preferidos.

    ResponderEliminar
  3. Achei a obra muito crua. Gostei da história do filme e da mudança nos sentimentos de ambos os personagens. O livro se dá praticamente sobre a perspectiva de Kitty, e os sentimentos de Walter são tão impenetráveis para Kitty quanto para o leitor. Achei Kitty frívola e empedernecida. Agora entendo pq a história do filme se desviou tanto da do livro.

    ResponderEliminar