sábado, 31 de março de 2012

in Pornopopeia

Subi a Augusta de Monzão sacando o movimento.

(...)

Pediu cem mas deixou pela metade: um galo pra ela, vintão para o hotel. Setentinha piço e cama, era um bom negócio.

“Meia hora só, tá, gato?”

“Claro.”

No que ela entrou no carro já lhe passei o cinquentinha do michê, que ela enfiou rápido no decote. Sempre faço isso, de pagar a puta antes. Cria um clima de confiança, esquenta a relação, melhora a qualidade da foda. Viver numa sociedade regida pelo dinheiro pode ser uma merda e tudo, mas porra, um pedacinho de papel pintado que pode ser trocado tanto por um prato de esparguete com vinho numa cantina do Bexiga quanto por uma peteca de cocaína ou uma bela buceta semidepilada à meia noite e pico na rua é de tirar o chapéu, fala a verdade.

(…)

Em seguida, larguei os peitos e comecei a trabalhar com as duas mãos a bunda da puta, mais para pequena, redondinha, um melão rachado. Era uma bunda que já tinha enfrentado alguns atritos com ângulos mais agudos da realidade, como bico de sapato e brasa de cigarro, por exemplo. Muita pica já tinha transitado por ali também, indo e vindo por aquele roscofe esgrouvinhado. Putas de rua é isso mesmo, vai querer o quê? Não são garota símbolo dos cremes antirrugas da Lancôme. Se eu fosse mulher, mais ou menos gostosa, pobre e ignorante, seria uma bela putana de rua também, e teria a essa altura mais cicatrizes e hematomas a ostentar que aquela fulana, se é que ainda estaria vivo, digo viva, do que muito duvido. Não me inspiram pena as putas da Augusta. Só tesão, quando estão peladas na minha frente numa cama rançosa de uma espelunca de vinte magos, e eu torto e tarado comendo elas pela frente e por trás, fazendo o possível para achar que a vida é engraçada, meu caralho, quando não bela.

Pode anotar aí: se no meu leito de morte me for concedido um último desejo, não hesitarei. Quero uma puta da Augusta, dessas de um galo, pra me oferecer seus préstimos no leito hospitalar, e ainda dou a ela os vintão que seriam para o hotel. Se eu estiver tão detonado a ponto do meu pau não reagir, paciência. Mesmo de pau mole um homem tem direito a uma puta em seu leito de morte, diria Henry Miller – em seu leito de morte.


Sem comentários:

Enviar um comentário