domingo, 19 de fevereiro de 2012

Um sublinhado de Isaac Babel...

in Contos Escolhidos


Terminada a cerimónia nupcial, o rabino deixou-se cair num cadeirão. Depois saiu da sala e viu as mesas postas ao longo do pátio. Eram tantas que a sua cauda passava para lá do portão que dava para a Rua Gospitalnaia. Cobertas de veludo, as mesas serpenteavam pelo pátio como cobras exibindo a pança feita de coloridos retalhos, retalhos de veludo laranja e carmesim que cantavam com voz grave.
As salas tinham sido transformadas em cozinhas. Uma grossa chama, uma ébria e farfalhuda chama, batia nas portas enegrecidas pelo fumo. Nos seus raios fumegantes, assavam as faces das velhas e os queixos trémulos do mulherio de seios ensebados. O suor rosado como sangue, rosado como a espuma de um cão enraivecido escorria desse monte espesso que exalava um fedor adocicado a carne humana. Três cozinheiras, sem contar com as ajudantes, preparavam o jantar da boda, sob o comando da octogenária Reizl, marreca e minúscula, tradicional como o pergaminho da Tora.
Antes do banquete, apareceu à socapa no pátio um jovem desconhecido dos convidados. Procurou por Bênia Krik. Chamou Bênia Krik à parte e falou assim:
— Olhe, Rei! — disse ele. — Tenho de lhe dizer umas palavrinhas.
Foi a ti Hana da Rua Kostétskaia que me mandou…

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