segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

a-ver-livros: Germana, de azul

Sento-me aqui e perco-me no azul, como quem se perde de si mesma, olhos postos num céu que muda de tonalidade ao longo do dia, cada uma perfeita.

Sento-me aqui e lá fora sei o sol que se lhe reflete no braço, que cria as sombras na parede, que torna as flores que morrem mais vivas na jarra. Um final de tarde junto à janela, quem sabe.

Sento-me aqui e perco-me nestes azuis como num bom livro. Não necessariamente um livro de amor. Falaria quiçá de tranquilidade, de paz interior, reflectida naqueles olhos grandes, expressivos.

Sento-me aqui a-ver-livros e descubro Felice Casorati e este “Retrato de Germana”, de 1952.


Pintor e escultor italiano (1883-1963), nascido em Novara, começou por estudar piano e depois Direito na Universidade de Pádua, para agradar aos pais. Mas quando um dos seus quadros foi exposto na Bienal de Veneza, corria 1907, Felice Casorati decidiu seguir o coração.
Serviu na Primeira Grande Guerra, chegou a ser preso nos anos 20 por envolvimento num grupo anti-fascista, e pintou, pintou, pintou, com enfâse na clara geometria dos dias, levando a que alguns achassem o seu trabalho frio, cerebral, académico. Não quis saber.
Ainda assim, a partir dos anos 30, já casado com a ex-aluna Daphne Maugham – que lhe daria um filho, Francis –, e muito envolvido na área da cenografia no Scala de Milão, o seu estilo suavizou-se, a sua paleta de cores iluminou-se. E assim foi até morrer, em Turim, cerca de um ano depois da perna esquerda lhe ser amputada na sequência de uma embolia.

1 comentário:

  1. Os olhos de Germana enchem o quadro.
    Não são olhos de quem lê...são olhos que avançam sobre alguém, que entrou em cena e que lhe dilatam, ainda mais, os enormes olhos; são olhos de quem vê chegar quem ama...não são olhos de quem medita na leitura...o livro é um pretexto...para os olhos de Germana...salientaria, porém, aquele vermelhinho nos lábios, que dão sabor quente à frieza de tanto azul

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