terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O comunismo Indiano: voltando a 'O Deus das pequenas coisas'...

Tenho um sublinhado a acrescentar ao muito que se escreveu neste blogue acerca da obra de Arundhati Roy:

"- Viva a Revolução! - gritavam eles. - Trabalhadores de Todo o Mundo Uni-Vos!

Nem mesmo Chacko encontrava uma explicação cabal para o facto de o Partido Comunista ter mais sucesso em Kerala do que em qualquer outra região da Índia, à excepção, talvez, de Bengala.


Havia várias teorias rivais. Uma era que tudo tinha a ver com o elevado número de cristãos do Estado. Vinte por cento da população de Kerala era constituída por cristãos sírios que acreditavam ser os descendentes da centena de brâmanes convertidos ao cristianismo pelo Apóstolo São Tomé quando este viajou para o Oriente após a Ressurreição. Estruturalmente - prosseguia esta linha argumentativa algo rudimentar -, o marxismo era um substituto simples do cristianismo. Substitui-se Deus por Marx, Satã pela burguesia, o Céu pela sociedade sem classes, a Igreja pelo Partido, e a forma e o fim da viagem permanecem idênticos. Uma corrida com obstáculos, com direito a prémio no final. Ao passo que a mente hindu tinha de proceder a ajustamentos maus complexos.

O problema com esta teoria era que, em Kerala, os cristãos sírios eram, em larga medida, os senhores feudais, ricos, proprietários (gerentes-de-fábricas-de-pickles), para quem o comunismo representava um fim pior do que a própria morte. Sempre votaram no Partido do Congresso.


A segunda teoria defendia que tudo tinha a ver com o nível relativamente elevado de alfabetização no Estado. Talvez. Não fosse o facto de esse elevado nível de alfabetização ser resultado do movimento comunista.

O verdadeiro segredo era que o comunismo se infiltrara em Kerala insidiosamente. Como um movimento reformista que nunca questionou abertamente os valores tradicionais que reagiam o sistema de castas de uma comunidade extremamente tradicional. Os marxistas trabalhavam dentro das divisões comunitárias, nunca as questionando, nunca parecendo não o fazer. Ofereciam uma revolução-cocktail. Uma mistura inebriante de marxismo oriental e hinduísmo ortodoxo, enriquecido com uma injecção de democracia."

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