segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

GavetaS

No quarto ao lado
alguém gemia,
não sei se de dor,
se de prazer.

O do terceiro,
adormeceu,
ao som granulado do televisor.

A do esquerdo acabou de chegar,
e caiu vencida sobre o sofá,
nem o cigarro apagou.

A do direito,
continua à espera.
Espera sempre acordada.

Em frente,
não havia por quem esperar.

Por baixo, continuavam a discutir.
nunca pararam de discutir,
palavras puídas de tão repetidas.

E sobretudo apenas o céu.

Era um prédio pequeno,
para tantas solidões.

Era um céu sempre cinzento.
Um céu cansado de ser cinzento.

Será que amanhã vai chover?

Pergunta-me a mim?

Sim, deve chover,
aqui, chove quase todos os dias,
para desgosto do jardineiro,
para alegria dos patos.


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