terça-feira, 24 de janeiro de 2012

As pessoas de Pessoa, o Barão de Teive.




A Educação do Estóico. Linhas e linhas preencheram o deleite dos estudiosos de Fernando Pessoa na abordagem a este livro incompleto assinado por Barão de Teive. Um semi-heterónimo analisado na comparação a Bernardo Soares, pelas semelhanças com Fernando, pela confusão das notas biográficas do próprio e talvez o desejo de as ver para lá do perceptível. A Verdade é que tanto  Álvaro de Campos como Ricardo Reis e Alberto Caeiro têm percurso, biografia datada, características próprias e por isso, à luz de uma comparação doutrinal, é como se tivessem personalidade jurídica. Tanto Bernardo Soares como este misterioso Barão de Teive confundem-se com Fernando Pessoa na mais elementar das características – o medo. Mesmo em algumas notas biográficas que se inferem da descrição, das atitudes e questões atribuídas a ambos, ressalta a vontade, de quem analisa, de perceber um pouco mais do Fernando escondido atrás de Pessoa e não do Fernando criador de outras entidades. Sem esquecer que o primeiro heterónimo surge aos seis anos de idade, Chevalier de Pas, a tentação de uma análise diacrónica comportamental é muita. Como se cedo este génio se tivesse começado a desfragmentar dos seus “eus”, diferentes entre si, ficando na gaveta do mistério as dúvidas de identidade de outros fragmentos da sua alma. Pessoa conseguiu dar vida completa e distinta aos seus heterónimos, e deambulou na liberdade de ir sendo naqueles dois ditos semi-heterónimos. Fernando ortónimo seria, assim, o visível, o fenómeno, Fernando heterónimos a desfragmentação da criação pura, Fernando semi-heterónimos o Númeno da sua essência.



A Educação do Estóico é um livro soberbo, uma espécie de diário, diria. “ Manuscrito encontrado numa gaveta.” “ O único manuscrito do Barão de Teive – a impossibilidade de fazer arte superior”, considerado uma obra-por-ser. Não se sabe se este era o titulo definitivo, não há mais nenhuma publicação atribuída ao Barão, muito embora se encontre uma ou outra referência, textos soltos, e cartas. Numa carta escrita  a João Gaspar Simões em Julho de 1932 intui-se que o Barão poderia vir a ser um heterónimo. Curioso também é o facto de algumas passagens dos manuscritos encontrados serem consideradas mais coerentes se ditas por Bernardo Soares. Este pequeno livro é uma soma de pensamentos, colocados pela ordem e pela coerência analisada pelos autores da edição, com base em vários estudos. Talvez mais uma peça para que um dia se possa, mais do que entender, sorrir a Fernando.



Estas páginas não são a minha confissão senão a minha definição. Sinto, ao começar a escrevê-la, que a poderei escrever com algum modo de verdade” in a Educação do Estóico.

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