quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Al-poeta-Berto

Se fosse vivo, Al Berto faria hoje 64 anos.
Morreu aos 49, em Junho de 1997, de seu nome completo Alberto Raposo Pidwell Tavares, nascido em Coimbra, adolescência vivida em Sines. Poeta, pintor, editor, polémico.
Mas, no fim, fica a poesia.


"Mais Nada se Move em Cima do Papel

mais nada se move em cima do papel
nenhum olho de tinta iridiscente pressagia
o destino deste corpo

os dedos cintilam no húmus da terra
e eu
indiferente à sonolência da língua
ouço o eco do amor há muito soterrado

encosto a cabeça na luz e tudo esqueço
no interior desta ânfora alucinada

desço com a lentidão ruiva das feras
ao nervo onde a boca procura o sul
e os lugares dantes povoados
ah meu amigo
demoraste tanto a voltar dessa viagem

o mar subiu ao degrau das manhãs idosas
inundou o corpo quebrado pela serena desilusão

assim me habituei a morrer sem ti
com uma esferográfica cravada no coração"

in “O Medo”

1 comentário:

  1. Estou a tratar num recente blogue alguns posts sobre este mestre, para postar no seu dia de aniversário (os 65, desta vez). Adoro este poema, tenho-o sublinhado de alto a baixo no Medo ao longo dos anos. Obrigada!
    Constanza

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