Não é bem uma declaração nem uma republicação, é uma espécie de resposta ao desafio do Rodrigo mas ao mesmo tempo gostava de assumir que o desafio do Rodrigo é para ir cumprindo por muitos mais anos.
Nesta altura do ano as pessoas dedicam-se a fazer as promessas do que querem cumprir. A passagem de um dia para o outro, de um mês para o outro, de um ano para o outro e que de repente parece ter um papel tão importante. É mais um dia, são mais umas horas. Gostava de as partilhar sempre com amigos, gosto de as partilhar durante o resto do tempo.
Hoje e pela primeira vez "saio do armário" no blogue e publico um texto da minha autoria, não de análise, de opinião ou critica mas literário. Talvez hoje e porque hoje acaba também um outro projecto valha a pena lançar raízes para qualquer coisa nova.
Reinventar as palavras, hoje só para vocês, os do blogue, seguidores, leitores, os do Facebook, colaboradores, amigos e amigas, amantes dos livros e das letras. Um obrigado grande ao Rodrigo porque nos foi juntando nesta aventura, e um obrigado aos outros e outras que nos motivam a continuar.
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As
palavras só existem para lhes podermos trocar a ordem das letras.
As letras só existem para podermos
brincar com elas e com as palavras.
As palavras só existem para nos
podermos calar.
Os silêncios só existem quando há
alguma coisa para dizer.
Busco, neste tempo que me resta
algo que me faça motivar para continuar. Debaixo de uma chuva miudinha deixo-me
ser molhado ao som de uma música que não me é estranha. Faz muito tempo que o
sol deixou de parar por aquelas bandas. Desde que cheguei aquele sítio que
tenho a sensação de estar a ser expulso pelo próprio clima, por muito estranho
que isto possa parecer. Mas haverá alguma explicação viável para o facto de em
pleno Verão, desde que montei o meu acampamento neste local, ainda não tenha
estado um único dia de sol completo, sempre encoberto, sempre com nuvens assim
até que culmina com aguaceiros e chuvas tempestuosas. Desvantagem pelo clima
que não possibilita grandes passeios ou devaneios físicos, vantagem pelo facto
que me obriga a ficar fechado em cafés, tascas e tenda, casa e sem lá mais
onde, até as entradas das lojas ou de casas antigas servem para desta forma me
ir obrigando a escrever. Pode ser aqui o fim da escrita, pode ser aqui que
consiga acabar a purga interior que comecei há tanto tempo atrás. Agora só me
resta saber o que vem depois, de todos passos dados o que acontece ao meu
andamento. Depois de dar o último passo o que faço a seguir. Para onde vou? E
já agora como vou e o que hei de fazer. Alterar de novo o meu estilo de vida,
adaptar-me, readaptar-me, construir toda uma nova rede de ajustes e entrar para
esse comboio desviado que está sempre em andamento.
O passo em frente, aquele
derradeiro passo em que não podemos prever o que se segue. No entanto e
normalmente temos quem nos acompanhe, há sempre aquele braço amigo que se
estende, aquela mão carinhosa que nos afaga nos momentos mais difíceis. Aqui
sentado ao frio e quase a escrever no escuro lembro-me como era bom sentir a
tua mão a passear nos meus cabelos a massajarem as minhas costas e os meus
braços. Não sei se sinto a falta da companhia e da atenção ou se sinto falta
das confusões, de me sentir preso a algo que já quase não via como meu. Deixar-nos prender ao que gostamos e ao que odiamos e sentimos a falta de
sermos maltratados quase tanto como a falta de sermos amados. Mas agora nada
disso é importante porque encontrei o que precisava, não é a solução definitiva
ou também não será a que me fará completamente feliz. Não existe felicidade
infinita, suprema e absoluta e nada substitui o conforto de uma felicidade
amena e pacifica que nos é trazida pela amizade.
Pedro Ferreira
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