quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

The complete Maus, Art Spiegelman

Art Spiegelman é o único cartoonista a ganhar o Prémio Pulitzer, corria o ano de 1992. Venceu com Maus, uma espantosa biografia da vida dos seus Pais (e da sua, por inerência). Num contexto histórico muito especial e de má memória: o Holocausto.

Em 1986 foi lançado o primeiro volume, Maus: A Survivor’s Tale, que relata o trajecto dos seus Pais antes de irem parar a Auschwitz. Posteriormente, em 1991 sai Maus: And Here My Troubles Began, que conta a verdadeira tortura a que muitos Judeus foram sujeitos e como os Pais de Spiegelman (sobretudo o relato do pai, Vladek, um Judeu Polaco) conseguiram sobreviver.

A publicação deste segundo volume valeu-lhe um Pulitzer especial - o júri não sabia se Maus era uma obra de ficção ou uma biografia.


A mim parece um relato bem presente dos horrores deste período histórico. Art Spiegelman é também personagem da banda desenhada que cria. O mais extraordinário é que todos os intervenientes nesta história do Holocausto estão divididos por diferentes tipos de animais. Assim, os Judeus (toda a família do cartoonista) são Ratos. Os Nazis são Gatos. Os Polacos são Porcos e os Americanos Cães. Mas também se podem ver - entre outros - Peixes (Britânicos) e Sapos (Franceses).

Este livro é sobretudo uma descrição detalhada dos horrores que os Judeus sofreram na pele, do que realmente se passou nos campos de concentração e da história negra de Auschwitz - onde se crê terem morrido um milhão de pessoas.

Mas Art Spiegelman acrescenta um toque de classe, pois, para além de criar este mundo fantástico de animais (e toda a simbologia inerente); faz-se incluir também na história, aparecendo frequentemente desenhado a relatar conversas que manteve com o seu Pai no processo de criação deste livro.

Vladek Spiegelman foi um homem que ganhou medos e manias muito profundas. E que visivelmente não conseguiu sarar as feridas da perda de quase toda a sua família (incluindo um primeiro filho) e do suicídio da sua mulher em 1968 (Anja, mãe de Art - ou Artie, como é conhecido na narrativa).

Maus é a história do presente e do passado de Vladek. Daquilo que podia ter sido uma vida fácil e promissora. E de como todos os sonhos se transformaram em pesadelos em pouco tempo. Mas é também um relato de sobrevivência, das tácticas que utilizou para escapar às câmaras de gás, o que teve de ceder e negociar. E como, no pós guerra, consegue encontrar a sua mulher e fugir para os Estados Unidos.


Posso dizer que esta b.d. é muito mais que um relato. É uma experiência sensorial, potenciada pela força dos desenhos. Não é por acaso que a crítica usa estas palvras:

"Maus memorializes Spiegelman's father's experience of the Holocaust - it follows his story, frame by frame, from youth and marriage in pre-war Poland to imprisonment in Auschwitz. The 'susvivor's tale' that results is stark and unembellished. One of the cliches about the Holocaust is that you can't imagine it - like nuclear war, its horror outfaces the artistic imagination. Spiegelman disproves that theory." - Independent

"An intensely personal account of a family's survival, of hair-breadth escapes and incarceration, (that) deals artfully with experiences and emotions that many might fervently wish to forget. Of how, when life is stripped to subsistence level, trust and betrayal take on unprecedented dimensions. In the tradition of Aesop and Orwell, it serves to shock and impart powerful resonance to what after all, is a well-documented subject. And the artwork is so accomplished, forceful and moving, without resorting to sentimentality, that it works" - Time Out

"A brutally moving work of art" - Boston Globe

"The most affecting and sucessful narrative ever done about the Holocaust" - Wall Street Journal

[The complete Maus teve traduções separadas em português: o primeiro saiu do mercado há muito tempo e o 2.º volume é da extinta Difel (difícil de encontrar). A edição que trato neste texto reúne os dois volumes. Publica a editora Penguin.]

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