É quase certo que enquanto viveu ninguém o tratou por senhor. Era simplesmente o Jaime. Para a mulher, os vizinhos, o patrão, o padre, as crianças e o correio.
(...)
O casamento com a Mariana tinha sido um arranjo. Ela era expedita, dessas raparigas saudáveis de quem o velhos dizem quando elas passam: não tarda a emprenhar. Mas órfã e pobre, a viver com uma avó que ia mendigar às terras de longe, para que não se soubesse. Sabia-se, claro.
O Jaime tinha uma horta, uma burra e aquele defeito de ser calado. Ninguém lhe conhecia mais senão. Era bom jornaleiro, os patrões traziam-no nas palmas, só se embebedava nos dias de festa, e isso porque os outros apostavam que um dia ainda haviam de o fazer falar.
O namoro foi curto, celebrou-lhes o casamento entre duas missas, e o primeiro filho, um rapaz, nasceu como compete: aos nove meses.
O resto da sua vida quase se passou sem história. Ia à jorna, ia à feira, de meio em meio ano mandava ferrar a burra. Chamaram-lhe uma vez o médico por estar às portas da morte com uma dor no peito. Acirravam-no quando a mulher aparecia grávida. De brincadeira, a ver se havia maneira de o pôr a falar.
Inventavam absurdos. Que na feira de Izeda tinham visto a Mariana aparceirar um cigano e meteram-se depois ambos por um campo de trigo.
- Faz as contas. A Catarina nasceu em Março. A feira é em Julho. E da feira a Março quanto tempo vai? Diz lá. Ó Jaime, onde é que ias arranjar aqueles olhos azuis à rapariga?
Sorria.
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