terça-feira, 29 de novembro de 2011

Fases e outras fases

Não sei porque sim - nem porque não, na verdade - mas acordei hoje lembrando-me de Cecília Meireles. Talvez porque a infância andou-me pela memória e alguns dos seus poemas para a infância me bailem ainda cá por dentro.

Não, não é portuguesa. É brasileira do Rio de Janeiro, onde nasceu em 1901 e se foi em 1964. O engano é comum. Algo há na sua escrita que não tem 'pronúncia' e isso conforta-me, que querem.

E quando acordei, como dizia, lembrava o início do poema que se segue. Só o início. Tive que ir procurá-lo para sossegar a alma. E agora partilho-o convosco. Sei que vão apreciar.



"Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E quando chega esse dia,
o outro desapareceu..."

Cecília Meireles, in "Flor de Poemas", Editora Nova Fronteira

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