quarta-feira, 26 de outubro de 2011

a-ver-livros: O homem que amava uma mulher que amava livros

Cruzei-me com o senhor Guillaumin. Armand Guillaumin. Na verdade, Jean-Baptiste Armand Guillaumin. Sabemos sempre o nome completo daqueles por quem nos apaixonamos, não é? E apaixonei-me por ele, entrei na sua história como quem entra num livro.

A começar pela adolescência de classe operária na França novecentista, em que aos 15 anos o puseram a ajudar na loja de lingerie do tio, podia ser que as mamas das clientes o distraíssem de querer ser artista. Não resultou, não tinha jeito para corpetes e soutiens e bateu com os costados nas linhas férreas, a trabalhar para o Estado. Alguma coisa teria que pagar as aulas de desenho e pintura onde em breve faria amigos para a vida, como Camille Pizarro e Paul Cézzane, mais tarde o próprio Van Gogh.


Para a História da Arte, Guillaumin ficou como impressionista dedicado e longevo - que só haveria de bater a cassoleta aos 86, um amplo recorde para a época. Fala-se sempre das suas paisagens de Paris e das cores intensas. O meu Guillaumin é outro.



É o tipo que, em 1886, se casa com a prima, a professora Marie-Joséphine, ávida leitora que o sustentaria durante anos. Mas ele devia amá-la. Só podia amá-la. A primeira vez que pintou o seu retrato, que se saiba, foi quatro anos antes do nó, e já nessa obra ela estava de livro na mão. Em breve a senhora sua esposa e os seus livros se tornariam o tema recorrente do pintor.


Tinha mesmo que ser amor por uma mulher que amava livros – só isso explica que a sorte os tenha bafejado em seguida, corria 1891. Chamou-se lotaria e choveram cem mil francos. O suficiente para a família não voltar a preocupar-se com dinheiro e Guillaumin poder pintar apenas o que lhe desse na veneta. Adivinhem: Marie-Joséphine e os seus livros. Mais tarde, Marguerite, a filha adolescente. E os seus livros. Mesmo que depois perdessem protagonismo para a dança, que a menina tornar-se-ia professora na escola da Ópera de Paris.

Alguns críticos garantem que foi a fase menos interessante de Guillaumin.
Não para mim.

3 comentários:

  1. Não conhecia o pintor, mas sem dúvida que fiquei muito curiosa depois do que nos contaste.

    ResponderEliminar
  2. Grande dedicação! Pois é amor, pois claro!

    ResponderEliminar
  3. Um homem que ama uma mulher já é muito bom. Com livros melhor.

    ResponderEliminar