terça-feira, 25 de outubro de 2011

Prémio José Saramago 2011

Informa o site da Fundação José Saramago:

"Andréa del Fuego, natural de S. Paulo, Brasil, onde nasceu no ano de 1975. Com formação em publicidade, fez produção de cinema e realizou duas curtas-metragens. Colaborando em várias revistas, inicia-se na escrita com Minto enquanto posso (2004). Uma primeira coletânea de contos seguida por Nego Tudo (2005), Engano seu (2007) e Nego fogo (2009). Em paralelo experimenta o juvenil com Quase caio (2008) e Sociedade da Caveira de Cristal (2008) e o registo infantil com Irmãs de pelúcia (2010). Decidida a completar a sua formação em Filosofia ingressa na Universidade de São Paulo. Incluída em diversas antologias de contos, nomeadamente 30 Mulheres que Estão Fazendo a Nova Literatura Brasileira e Os cem menores contos brasileiros do século, foi distinguida ainda este ano com o Prémio São Paulo de Literatura. Mantém o blog www.andreadelfuego.wordpress.com."


Seleccionei duas opiniões do júri:

Nélida Piñon

"Os Malaquias é um romance áspero, poético, original. Voltado para a paisagem rural, a que raramente os autores contemporâneos se circunscrevem, seu perfil arcaico e trágico suscitam emoções intensas.

Oferta-nos uma leitura da qual não se sai incólume, cada capítulo traçado para nos perturbar. Uma criação que, enquanto avança, sem pausa que nos console, distancia-se dos intimismos, dos individualismos exacerbados, do falso cosmopolitismo que ora pauta a produção urbana. Como se estivera a autora centrada em retratar a injustiça e a crueldade de que somos forjados. Graças, pois, ao inusitado vigor de sua narrativa, Andréa del Fuego, autora de Os Malaquias, merece o prémio Saramago 2011, talhado para o seu talento."

Ana Paula Tavares:

"«Antes do amanhecer a água mudou o tato das coisas. Um vento sob a represa que a superfície, disfarçava, o chão soltando ar, as plantas ficando de lado, aconteciam peixes.» Os Malaquias, p.117

Há um mundo primevo neste Os Malaquias de Andréa del Fuego, uma proposta de atravessar o tempo para descobrir as teias de um passado onde se apropria das falas e do conhecimento que lhe permitem nomear os seres que habitam a narrativa com voz própria para contar a vida vivida, a vida sonhada. Há em cada personagem do livro um passado que funciona como razão de um presente que o aprisiona e impele para um mundo onde se resolve a condição de estar vivo. Serra Morena é o lugar onde se chega para encontrar as origens e perceber que uma família se faz das intrincadas alianças que ultrapassam o mero parentesco mas também o lugar encantado onde tudo ganha forma nos misteriosos caminhos da escrita que se afeiçoa a revelar ao leitor as mil maneiras de viver e morrer dos Malaquias. Do outro lado o vale “onde quem vai, se volta, volta virado” (p. 154), que se prolonga numa sucessão de espelhos “o outro lado do vale era outro vale” (p. 163), como a palavra escolhida precisa e encantatória de Andréa del Fuego. Todas as famílias têm uma história, mas poucas servem esta tensão da escrita com o seu sistema de referências requintado e próprio da arte do romance. Os Malaquias dão-se a conhecer num intrincado jogo que a escrita controla e refaz. O resultado é misterioso mas absolutamente fascinante."

Do pouco que vi, gostei, para já, do blogue dela! Ver aqui.

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