quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Japão No Femininino - II - Haiku, Século XVII a XX

Este volume não me encantou tanto como o primeiro (que podem ler aqui e aqui). De qualquer forma, parece-me essencial lê-lo para compreender a poesia feminina Japonesa desde o século XVII até ao XX.

A introdução deste livro da Assírio (organizado por Luísa Freire) inicia-se com estas palavras: "O «Haiku nem é feminino nem masculino», diz Tsuji Momoko num volume de 1997, concluindo que «tudo o que temos são poemas líricos e poemas de humor em forma de haiku». Esta apreciação, vinda de uma mulher poeta nascida em 1945, condensa perfeitamente o que é, no Japão moderno, o pensamento feminino face à velha forma tradicional."


Um estudo de R. H. Blyth apura esta definição, dizendo: «Haiku is the creation of things that already exist in their own right, but need the poet so that they may "come to the full stature of a man". [...] Haiku shows us what we knew all the time, but did not know we knew; it show us that we are poets in so far as we live at all.»

"De tudo isto se conclui que o haiku, mais do que poesia, é uma atitude mental; mais do que criação, é um processo de descoberto aprendido em cada dia, aprendido em cada coisa, repetido em cada circunstância; é a fusão do directo, do prático e do espiritual, quase a expressão de um satori, fruto de um momento privilegiado e daí ser considerado uma experiência poética e religiosa. Ao contrário da poesia ocidental, o haiku não pretende tocar o grande, o eterno ou o infinito distante, mas só o pequeno, o imediato, o ínfimo infinito que os olhos contemplam, ali mesmo, ao alcance da mão."


Posto isto, deixo dois exemplos. Um de Mitsuhashi Takajo (1899-1972), que afirma «Escrever um haiku é como tirar uma crosta. Ao fazê-lo provamos que estamos vivas.»

"Ali o balão
insuflado de tristeza,
subindo no ar.

O tronco curvado,
depois que a hera morreu,
inexplicavelmente.

Começo de Inverno -
árvores, vivas e mortas,
já não se distinguem.

Pelo gelo fino
minha sombra a deslizar
até que mergulha."

Por fim, Tsuda Kiyoko (N. 1920) que define assim esta arte poética: "Compor um haiku é como cozinhar. Tudo o que faço é cozinhá-lo e oferecê-lo ao meu mestre. Se ele o come ou não, já não é comigo.»

"No campo gelado,
olhos famintos da água
sobre a minha carne.

A voar nas dunas,
o corvo e a borboleta,
ambos solitários.

As folhas da árvore,
visitadas pela morte,
tombam uma a uma.

Besouro a voar -
velocidade visível
de asas invisíveis."

2 comentários:

  1. Gosto bastante deste e do primeiro livro de poesia japonesa no feminino!

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  2. Bem, eu gostei dos dois. Mas o primeiro foi mais especial. Talvez pelos temas que trata e pela época em que está inserido.

    Por estar mais distante...

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