sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Revista Ler n.º 104

Julho / Agosto trouxe, a meu ver, uma Revista Ler desinspirada. Desde logo pela capa. "24 livros sem desculpas para não ler nas férias." Quanto a mim, é um pouco cliché falar-se de livros para ler na praia, por melhor que esta lista seja ou os livros sugeridos. Não creio que uma revista com este peso na crítica literária necessitasse de fazer assim uma coisa tão óbvia. É quase como se entrasse numa campanha publicitária.

Bem mais interessante e em vez de listas, é o artigo que Rogério Casanova assina sobre "estratégias a usar na praia" para ler. O diálogo que mantém com Renato Diogo, um menino de cinco anos, e que 'inferniza' o Rogério; é soberbo. O pequeno bem tenta travar toda a paz possível do adulto, dificultando ao máximo a tarefa do leitor. Quem será que ganha?


Entrevista central a Maria Filomena Molder, muito interessante. Conduzida, como é habitual, por Carlos Vaz Marques. Deixo convosco um pensamento:

- 'Está em exegese permanente?'

- 'Sempre. Isso parece impedir o pensamento. Para haver pensamento é preciso distância. Aqui não; é tudo em cima da hora. Quando há declarações dos políticos, quase ao mesmo tempo já se está a fazer o comentário. Às vezes nem se deixa acabar o discurso. Há nisso uma impossibilidade de criar distância, uma condição para nós pensarmos. (...)'

Por fim, uma constatação assinada por Nuno Costa Santos, na rubrica 'Provedor do leitor ou como fazer amigos na literatura'.

Festivais contra a solidão

"Tenho pensado no assunto e procurado encontrar uma reposta para a pergunta: porque é que os escritores que vão a festivais literários falam dos momentos que por lá passaram de uma maneira, digamos assim, tão romântica? Penso ter encontrado a resposta: é por causa da solidão. Da solidão subitamente quebrada em dias convivais. Nunca como agora se partilhou tão pouco a escrita. Nunca como agora se conversou tão pouco sobre os avanços e recuos de cada um. Dantes havia encontros de café e correspondência entre escritores. Agora há no máximo SMS para «ir tomar um copo» ou comentar a intervenção de um iluminado economista no «Prós e contras» com um «Quem é este patego?». Num festival, os escribas, seres reclusos, encontram-se e falam. Acho que é daí que vem a felicidade."

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