domingo, 3 de julho de 2011

Praça de Londres, conto II: La Rue du Rhone, um passeio ao Louisiana pelo mapa de Genéve.

Auxiliares de memória:
 Louisiana, Estado Norte-americano cuja história, economia e cultura estão ladeadas pelo Rio Mississípi. Pelo seu Delta. Furacão Katrina. Pântanos e lagos incluídos na descrição. E Répteis, alligator mississippiensis v.g, crocodilos, v.g, matéria prima para acessórios vários.
Genebra ou Genéve, cidade Suiça e capital do cantão com o mesmo nome. Classificada em 2009 como a quarta cidade mais cara do mundo, tem o rio Ródano a soltar-se do lago  Léman.  A sua história, para além de um Italo Calvino, viu nascer um certo Jean-Jacques Rousseau que enunciou um dia que ”o homem nasce naturalmente bom, a sociedade é que o transforma”

Elas. Quatro. A anfitriã da Loja finíssima de la Rue du Rhone, Genéve, Suíça. As duas clientes concentradíssimas no êxtase da rua mais cara da cidade. A mala, em pele de crocodilo.
O diálogo, a perdição feminina ou a conotação da mesma numa metáfora mais abrangente. Será o tema a futilidade? Não. Isso não é tema nem temática, é dado certo de todo e de cada um, valham-nos momentos desses. Quiçá um apelo à sensibilidade sobre o direito dos animais, tal é descrição do dito alligator e todo o encanto frio sobre os acessórios vários, ou a vista que uma peça verdadeira, feita de pele verdadeira, daquele animal que nasceu para dar o cunho verdadeiro à vaidade e ao glamour? Também não. Não tropeçamos no processo de caça de crocodilos, nem na dor ou sofrimento de animais. Tropeçamos na importância do fenómeno e da imagem,  isso sim. Esse é o tema, que desagua no orgulho. A história resume-se a uma peça caríssima e duas almas que se afogam na autenticidade da mesma. Não interessa se é bonita ou feia, se é útil ou irresistível. É única e faz “um vistão”. E a matéria prima vem de Louisiana. E encontra-se ali, transformada à medida, na tal quarta cidade mais cara do mundo, na rua mais cara da mesma cidade com Léman a banha-la. A cegueira do deslumbre olvida a noção do preço. O Orgulho, esse valor inultrapassável e de importância vital paga qualquer preço para não sair ferido. E a história é esta. E podia ser uma mala como outra coisa qualquer. Podia até ser uma discussão sobre política numa mesa de café. Certamente “café” não seria o líquido, apostaria num vinho caro. Não interessaria desde que o orgulho saísse bem alimentado.
O homem nasce naturalmente em bruto. E cria a sociedade num palco de orgulho desnecessário.

Sem comentários:

Enviar um comentário