terça-feira, 28 de junho de 2011

Livro do mês - Praça de Londres - Lídia Jorge


Praça de Londres é um livro inquietante. Cinco contos situados. Diria que situados no recanto do espasmo ”hipofísico”, esse que um Damásio tenta contextualizar na relação de causa efeito entre a manifestação química e o comportamento, ao jeito do que surge primeiro, o que leva o quê a quê.  A frenética busca pela verdade leva-nos muitas vezes a deambular pelos processos e a não mergulhar no seio deles. Ao desembocarmos na Praça de Londres  o desconforto instala-se, de conto em conto, de imagem em imagem, de tom em tom. Contos urbanos sim, com ruas e paisagens reais, com mitos e anseios frios e pragmáticos. Provavelmente, leitor não haverá que não se identifique com cada uma das histórias. Não numa relação de papel químico mas no óbvio dos pensamentos avulso, retidos com mais ou menos intensidade num ou outro momento da vida. Lídia Jorge abriu o flanco e fez-me trata-la “por tu”. “Pôs-se a jeito”, no amanhecer da explosão de imagem e na simbologia do diacronismo que, por norma, é elemento invisível e por isso o mais real e presente.

Praça de Londres e Rue du Rhône são os dois primeiros contos do livro e aqueles que vamos abraçar em cinco dias. Peço-vos que abandonem a crítica literária pura e que questionem, que dêem de vós a voz trémula do desconforto, o grito de uma explosão de desagrado ou a leve conclusão do amorfismo. Ou simplesmente um sorriso. Sem regra possível para já, deixo-vos a pergunta: Onde é que a Rue do Rhône desemboca na Praça de Londres? O que une o espaço às histórias? Onde é que a mente tropeça no antagonismo das personagens? O que está errado aqui? Errado de tão nítido nas nossas viagens profundas? Onde se encontra a linha ténue entre o certo e o errado, a simplicidade e a ingenuidade, o instinto e o dado adquirido? Que face tem?

É esta a  equação que vos proponho, os dois primeiros contos desta obra, em diálogo diário nos próximos cinco dias. Depois daremos à Branca de Neve uma Viagem para Dois terminando com Perfume.  Lancemos a Pedra ao Essencialismo para construir a Dialéctica.

Aguardo-vos.

Ansiosamente,

Constança Barras Romana. (CBR)  

1 comentário:

  1. Maria do Rosário Palma2 de julho de 2011 às 21:49

    Que dizer? Falar da escrita de Lídia Jorge, sem qualquer desprimor para outros tantos talentos da Literatura em Portugal,nem precisa quase de palavras.
    A escolha do livro foi excelente.
    Parabéns à autora, parabéns ao moderador deste belíssimo Blog.Falar de livros, nunca é demais, falar de Cultura faz bem à mente e enriquece-nos o espírito.Este País precisa tanto que quem gosta de Arte e de Livros possa incutir nas pessoas o quanto é bom ler. Um livro é uma peça de Arte e de Sabedoria.

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