terça-feira, 21 de junho de 2011

in A Questão Finkler

"- Se achas que vais conseguir levar-me para a cama no primeiro encontro – disse ela, deixando-o levá-la para a cama no primeiro encontro - , estás bem enganando.

A sua explicação para o que aconteceu mais tarde foi que aquilo não era bem um encontro.

Assim, Treslove voltou a convidá-la, desta vez para um verdadeiro encontro. Janice apareceu usando longas luvas de ópera da época eduardina que comprara numa venda de artigo usados para caridade e não deixou levá-la para a cama.

- Então, não voltamos a combinar sair para mais encontros – disse Treslove.

Janice respondeu que não se podia planear sair para não ter um encontro, porque isso já era um encontro.

- Então, não vamos sair nem para um encontro, nem para um não-encontro – sugeriu Treslove. – Vamos só para a cama.

Ela deu-lhe uma bofetada.

- Que tipo de mulher julgas que sou?

Um dos botões de pérola das luvas de ópera cortou a face de Treslove. As luvas estavam tão sujas que este receou apanhar uma sepsia.

Depois disto pararam de combinar encontros, o que queria dizer que ele a podia levar para a cama à vontade.

- Dá-me com força – dizia-lhe Janice entre arquejos como se estivesse a ler palavras escritas no tecto.

Treslove tinha por ela uma pena que ia até às profundezas da sua alma.

Mas isso não o impediu de lhe dar com força.

E talvez ela também tivesse pena dele. De todas as namoradas de Treslove deste período, Janice foi provavelmente a única que sentiu por ele algo que poderia ser designado como afecto, embora não chegasse ao ponto de gostar da sua companhia.

- Não és propriamente um mau homem - disse-lhe uma vez. - Não quero dizer que não és feio ou mau na cama, digo que não és uma pessoa má. Há algo que te falta, mas não é a bondade."

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