quarta-feira, 4 de maio de 2011

A viagem continua... Argentina, próxima paragem

País convidado da última Feira do Livro de Frankfurt tem por isso recebido as maiores honras e atenções. Não é à toa que a maioria das publicações culturais e literárias tem vindo a carregar nos artigos falando sobre a literatura de ficção deste país. Também é possível reparar a grande quantidade de autores que estão a chegar às nossas livrarias. Não por falta de mérito, a literatura contemporânea deles figura entre as melhores do mundo.

Na década de 40 Jorge Luis Borges brilha como ícone mundial das letras argentinas. Extensamente traduzido e lido em todo o mundo. É um dos literatos mais aclamados do século XX. Com o apoio de Borges, Julio Cortázar edita os seus primeiros contos e inicia uma carreira brilhante. Ainda hoje continua a deslumbrar os leitores com suas ideias fantásticas e a sua mestria para executá-las. Em 1963 publica a revolucionária novela Rayuela.
Dentro desse ramo do idealismo destacaram-se também Adolfo Bioy Casares e Manuel Mujica Láinez. Bioy forjou uma forte amizade com Borges. Em co-autoria produziram grandes relatos: "Seis problemas para Seu Isidro Parodi" (1942), "Duas fantasias memoráveis" (1946), "Um modelo para a morte" (1946), "Livro do Céu e do Inferno" (1960), "Crônicas de Bustos Domecq" (1967) e "Novos contos de Bustos Domecq" (1977).
Juan Gelman destaca-se na poesia de estilo coloquial, carregada de compromisso político. O seu talento é reconhecido com o Prêmio Cervantes em 2007, o galardão literário mais importante da língua castelhana, ganho anteriormente pelas grandes referências como Bioy Casares, Ernesto Sábato e Jorge Luis Borges.
Também deixam pegada com os seus versos, Horacio Salas, Juana Bignozzi, Rafael Squirru, Fernando Guibert, Leónidas Lamborghini e Alejandra Pizarnik. Na década de 70, a ditadura militar marcou a fogo, as vidas dos argentinos e do mundo cultural. Juan Gelman, Antonio Di Benedetto, Osvaldo Bayer ("A Patagônia Rebelde", 1972), Tomás Eloy Martínez ("A paixão segundo Trelew", 1973) e Héctor Tizón, foram somente um punhado dos nomes que tiveram que se exilar para sobreviver.
Com o retorno da democracia, a vida cultural ressurge e tornam-se conhecidas obras de uma grande quantidade de escritores. Em prosa distinguiram-se: Ricardo Piglia, Manuel Puig, Antonio Di Benedetto, César Aira, Juan José Saer, Alan Pauls, Rodolfo Fogwill, Ana María Shua, Luisa Valenzuela, Alicia Steimberg, Osvaldo Soriano, Alberto Laiseca, Antonio Dal Masetto, Jorge Asís, Mempo Giardinelli, Cristina Feijóo. Na poesia: Arturo Carrera, Néstor Perlongher, Ricardo Zelarrayán, Susana Thenon, Irene Gruss, entre outros tantos que se poderia aqui enumerar.
Actualmente, uma nova geração de escritores emerge entre os que conheceram o êxito da editorial nos anos 90, como Federico Andahazi, Marcelo Birmajer e Guilllermo Martínez. A crítica menciona entre os seus principais, Washington Cucurto, Gisela Antonuccio, Juan Terranova, Pablo Toledo, Florencia Abbate, Samanta Schweblin, Mariana Enriquez, Diego Grillo Trubba e Federico Falco.

Ricardo Romero nasceu em Paraná, Entre Ríos, em 1976, na Argentina. É licenciado em Letras Modernas pela Universidade Nacional de Córdoba e, desde 2002, vive em Buenos Aires. Em 2003 publicou o seu primeiro romance, Ninguna Parte (Nenhum Lugar, nesta edição que a Deriva agora publica) e, a partir desse mesmo ano, dirigiu a revista Oliverio. Durante 2006 publicou o seu primeiro libro de contos, Tantas noches como sean necesarias. Em 2007, vários dos seus contos foram editados em diversas antologias dedicadas aos novos autores argentinos. Em 2008, publicou o romance El síndrome de Rasputín, primeira parte do que chama a sua «Ticlogía». A segunda parte desta saga, Los bailarines del fin del mundo, foi publicada em 2009. É igualmente editor da Gárgola Ediciones, onde dirige a colecção «Laura Palmer no ha muerto» e de Negro Absoluto, colecção de policiais dirigida por Juan Sasturain. Desde 2006, é um dos integrantes de El Quinteto de la Muerte, grupo com o qual editou este ano os livros 5 (La Propia Cantonera, Uruguai) e La fiesta de la narrativa (Editorial Una Ventana, Buenos Aires). Coordena a Taller de Algo juntamente com Federico Levín.

«O silêncio e a calma do deserto só eram interrompidos pelo chispar do seu isqueiro. Acendia-o e colocava-o em frente dos olhos esperando que o vento o apagasse. Quando o vento o apagava, voltava a acendê-lo e a chama elevava-se por um instante, vibrando na sua alaranjada transparência, até que a brisa o fazia desaparecer outra vez. «Talvez devesse comprar um cachimbo» – pensou Maurício, «dizem que é uma boa maneira de deixar de fumar». Isto era o que Maurício pensava. Entretanto, todo o deserto parecia estar à espera que o seu isqueiro ficasse sem gás.

Em Portugal a Deriva Editores faz essa aposta com uma nova colecção em que acaba de editar a Florencia Abbate e o Ricardo Romero. Também a Cavalo de Ferro com Pássaros na Boca, da Samanta Schweblin, vencedora do Prémio Nacional das Artes e do Prémio Casa das Américas. Estas e outras editoras têm visto aqui o potencial de edição, apostando nos velhos e novos valores da literatura argentina.

2 comentários:

  1. Muito interessante Pedro. Dá vontade de os conhecer a todos!

    Bem, falaste de muitos que já moram nesta casa. Outros vou ter que descobrir!

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  2. Gostava de acrescentar Lázaro Covadlo, autor menos sonante, com dois magníficos livros editados entre nós pela Livros de Areia.

    http://www.livrosdeareia.com/livros_Criaturas.htm

    http://www.livrosdeareia.com/livros_BuracosNegros.htm

    Grande abraço, camaradas.

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