Terminei a Revista Ler, mês de Abril.
Os desabafos do editor - Francisco José Viegas - sobre a crise do livro, tem pontos com que concordo. Outros parecem-me excessivos.
Não concordo quando diz que 'a política de saldos até ao infinito como forma de solucionar «problemas de caixa» (o sonho de «livros a um euro» é uma alegria mal partilhada, caros leitores)...' Como vendedor de livros e estando em contacto permanente com o cliente, sei que, muitas vezes, saldar é a única forma de ver alguém sair com um livro na mão.
Pode parecer triste, mas é a realidade.
Não faço por esquecer que ler em Portugal continua a custar um absurdo. Se querem realmente promover a leitura, façam um grande debate com editoras e livreiros. Sei que sou um idealista, mas não é possível lutar por livros mais baratos?
Concordo com o que diz mais à frente: 'Talvez nasça uma nova «economia de títulos», uma mais decente política de promoção do livro, uma nova maneira de encarar as livrarias e a inteligência dos leitores.' (não sei é se acredito... veremos).
Neste número, destaque para as crónicas dos que passaram pelas Correntes de escrita, na Póvoa de Varzim. A história que Onésimo Teotónio Almeida conta, vale a pena.
Mas o ponto alto desta edição é a grande entrevista dada por Umberto Eco a propósito do seu mais recente romance. Toda a conversa conduzida por Carlos Vaz Marques, em Milão.
Destaco esta observação (lição):
'Há uma longa bibliografia sobre a diferença entre mentir, dizer algo falso e fazer de conta. Ora bem: mentir é dizer o contrário daquilo que se sabe ser verdade. Digo-lhe, por exemplo, que não está mais ninguém cá em casa. Como sei que a minha mulher está ali dentro, estou a dizer-lhe o contrário da verdade e o contrário daquilo que sei que é verdade, de modo a que você acredite em qualquer coisa falsa. Isto é uma mentira.
Outra coisa é dizer o que é falso: seria dizer-lhe que ela não está cá mas sem saber que afinal está. O pobre Ptolomeu dizia que o Sol girava em torno da Terra mas não era nem um mentiroso nem um romancista. Enganou-se.
A narração, por sua vez, é fazer de conta. E o que é fazer de conta? Esta não é uma ideia minha, isto já foi estudado. Fazer de conta é um jogo em que, por exemplo, eu digo que vou dar-lhe um murro. Faço de conta de que vou dar-lhe o murro mas não lho dou. Faço de conta de que sou um chefe índio. Em italiano, e creio que noutras línguas também, as crianças usam, curiosamente, o imperfeito nalgumas brincadeiras. Não dizem «Eu sou o chefe índio» mas «Eu era o chefe índio». Fazer de conta é, portanto, o modo de falar a alguém dizendo-lhe: «Tu sabes que aquilo que te vou contar não é verdadeiro, mas deves aceitar o meu jogo e fazer de conta que ele é verdadeiro.'
Também gostava de ver a politica de preços a mudar em Portugal. Infelizmente acho que tem vindo a fazê-lo ... mas para pior.
ResponderEliminarGostava de ver mais livros a serem editados em formato bolso e gostava que o mercado para os e-books permitisse livros mais baratos.
Boas leituras