quarta-feira, 4 de maio de 2011

Dentro de mim faz Sul - seguido de - Acto Sanguíneo, Ondjaki

Como o próprio título diz, o livro está dividido em dois 'actos poéticos'.

Ler Ondjaki é gratificante. Divino no que toca ao sentimento pela Terra. Com letra maiúscula, o 'verdadeiro pó'. A poesia do autor é um apelo aos sentidos. A natureza está por todo o lado: presente nos pássaros, nas flores, no sal, na lua... Imagens que ajudam a compreender sensações humanas.

Na primeira parte ('Dentro de mim faz Sul') destaco o poema 'Os óleos, os olhos, as Almas' - dedicado a Paula Tavares e a Ruy de Carvalho.

Sendo difícil destaca-lo na íntegra, deixo as palavras finais:

(...)
'da ponte
onde
a sombra se despe e resiste
onde o poeta se senta
e na textura dos versos
insiste
sou um qualquer bicho
formiga lesma gafanhoto
espaço entre as areias
destro demasiado canhoto
sou a criança por adormecer
na ternura de mãos quentes
no colo da madrinha
em tardes ausentes

sou um pássaro fugaz
inquieto
esperando a vez do novo ser

e olhando a chuva
em mim me deito

raiz, semente
pessoa
por acontecer.'


No 'Acto sanguíneo', do poema 'Em adeus', destaco o seguinte:

(...)
'se escrevo, devo
algo às lembranças,
à balança interna
entornando adocicados barulhares.
na primavera, primo
por flores,
sabores, odores.
na rima me embalo,
sopro mel
e, apetecendo,
falo do que falo.
mas fá-lo-ei sempre?
sinto que devo
soprar o trevo
e ir sentando de manhã
à espera do sol
que acorda a rã
que emite o grito
que sempre alegra
um poucochito.'

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