quarta-feira, 16 de março de 2011

Uma ideia de viajar à Índia...



Seguindo o mote do Rodrigo, na busca de outros olhares sobre a Índia por onde o nosso protagonista viaja, deixo "Uma Ideia da Índia", de Alberto Moravia.
Em 1961, o autor publica uma série de crónicas no Corriere della Sera (reunidas neste livro), fruto da sua incursão neste "território espiritual", acompanhado do realizador Pier Paolo Pasolini (que publica também um livro sobre esta viagem, «O cheiro da Índia»).

Em muitos aspectos, como alerta o coordenador da Colecção, Carlos Vaz Marques, esta Índia viajada por Moravia já não será a que vemos nós; nem Bloom.
Mas o que este livro traz de interessante à nossa construção mental do cenário do livro de Gonçalo M. Tavares é o relato, mais que factual, reflexivo, sobre a vida nesse estranho país.
"Tudo é religião na Índia, até o modo como se vestem", afirma Moravia, prosseguindo na narrativa em descrições de milhares de leprosos vagueando pelas ruas apinhadas, as vacas magras, a estranheza das castas e dos costumes. E o imponente Ganges, rio de passagem entre a vida e a morte.

E à imagem dos corpos que viajam neste rio fátuo, deixo uma passagem do primeiro canto da epopeia de Bloom, em jeito de homenagem também a um Japão dilacerado pela catástrofe.

"24
(...)
De que forma a catástrofe
traz perturbações ao velho método
de aplicar uma distância ao mundo?

25

Por cima da catástrofe, de um ponto de vista aéreo,
o homem é capaz de ironizar,
porém, já debaixo da catástrofe,
debaixo dos seus escombros,
a ironia será a última a aparecer,
depois da acção instintiva de defesa,
do desespero que ainda emite ordens e tentativas,
e do último grito que assinala o fracasso."

1 comentário:

  1. Curioso. Quando li essa passagem tive a mesma sensação,a aproximação brutal a um Japão destruído. Lembramo-nos do corpo quando dói.
    My captain, que a viagem prossiga...

    ResponderEliminar