sexta-feira, 18 de março de 2011

O que damos a ler aos nossos filhos?

É importante educar os nossos filhos / crianças na leitura. Plenamente de acordo. Aliás, sempre que confrontado a aconselhar, tenho por princípio questionar exaustivamente o cliente.

As idades são importantes. O sexo pode ser importante em determinados escalões. O facto de ter ou não ter hábitos de leitura. Procurar saber quais os últimos livros que leu. E, por fim, os gostos pessoais.

O pior é quando um livreiro é confrontado não pelos gostos dos miúdos, mas dos pais. Fiquei chocado há uns dias. Pelas preferências literárias da mãe em relação à filha de 14 anos.

Primeiro confrontou-me com a leitura que a filha estava a fazer: 'O nome da Rosa' de Umberto Eco. Pensei com os meus botões: um livro com mais de 500 páginas? A Sra. dizia-me que a rapariga não estava a achar tanta piada a este. Pudera...

Na verdade, a filha precisava de um livro que chocasse - dizia-me. Qual foi a alternativa da Sra? Pois bem, 'Mein Kampf' de Adolf Hitler. Tentei chamar a Sra. à terra e disse-lhe logo de caras que não havia tradução em português e que o livro é proibido. Existe noutras línguas, pode encomendar-se.


Tentei apelar ao seu bom senso. Comecei a sugerir o 'Diário de Anne Frank'. Detesto quando me respondem: 'Ah, esse... Leu-o com 10 anos'... Por favor!

Prossegui para os livros do Sepúlveda, passei pelo livro do Primo Levi sobre o Holocausto... A Sra. queria livros que chocassem.

Desisti do meu papel.

Fui ter com uma colega e os dois começamos a dar-lhe mais possibilidades. Desde testemunhos de mulheres muçulmanas, livros biográficos de Hitler. Por fim, levou 'O Fim da Inocência' de Francisco Salgueiro.

Já com a filha a seu lado, ainda perguntou se havia o livro 'A Bíblia de Hitler'...

Obviamente que este é um caso extremo. No entanto, deixo a pergunta: são estes livros que queremos que os nossos filhos adolescentes leiam?

3 comentários:

  1. A dita sra devia procurar livros para ela ...

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  2. Fizeste-me lembrar um caso que tive na minha livraria há umas semanas:
    Uma mãe, com uma criança de uns 8 anos, aproxima-se do balcão e pede livros sobre armas para crianças.
    Não havendo, diz que podia ser para adultos.
    Não havendo, pede livros sobre guerra, para adultos. Indico-lhe a colecção de estratégia militar da Sílabo e ela, muito contente, diz ao filho: "Olha, tens aqui a 'Arte da Guerra', é um livro muuuito giro, muito interessante, blá, blá, blá.".
    Passado algum tempo, vejo-a a afastar-se com a criança dizendo: "Como não há livros pode ser que haja armas lá em cima, no piso de criança..."
    Ainda pestanejei, na esperança de tudo aquilo ser uma alucinação de cansaço, mas não.
    Observei aquela família disfuncional a afastar-se, e vi um Charles Manson em formação.
    Que medo.

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  3. Eu por acaso li o Diário de Anne Frank com onze ou doze anos e não fiquei traumatizada por isso...Acho que os pais devem levar em conta os gostos da criança e não obriga-la a ler coisas que não quer...eu sempre escolhi o que quis :)

    cumps

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