sexta-feira, 18 de março de 2011

Canto I / Canto II

'Uma viagem à Índia' tem tudo para ser o livro mais discutido neste blogue. Uma obra universal de um escritor que está a (/ vai) dar cartas.

A Luma 'roubou-me' um trecho que ia deixar - Canto I, n.º 25. Nada mais simples, procurem-no por aí abaixo. Descarrego outros. A ver se vos contagio...

Canto 1:

65

'Cada homem pensa-se portador da melodia exacta,
mas uma melodia não é o resultado de um problema
de quantidades
mas de um bem mais perturbante problema de alma.
Cada música responde assim
à indecisão de uma existência carrega:
desisto de viver ou mato? Luto ou esqueço
o que pode ser inundado?'


Canto 2:

23

'Mas nesta oportunidade falemos ainda dos Deuses
ou do Destino.
É evidente que as formigas trabalham mais
que os Deuses:
senão qual a utilidade de ser coisa divina?
Quem acreditaria em milagres, se um Deus,
mesmo que mal colocado na hierarquia,
trabalhasse das nove às cinco?
Decididamente, os Deuses já começam a vida
inertes e preguiçosos.'


38

'Mas eis ainda uma questão: situando-se os órgãos da
[alegria exactamente
no mesmo local dos órgãos da tristeza, como conceber
que o mesmo espaço seja duas vezes ocupado
num único momento? Como ser feliz
e triste num único tempo? Será cada instante de um
ser vivo matéria assim tão larga
que nele caibam, bem juntinhas,
duas sensações de dimensão significativa e
temperamento oposto?'

Sem comentários:

Enviar um comentário