quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Metamorfose, Franz Kafka


'Quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de insecto.'

É assim que começa um dos livros mais repugnantes que li. Acredito que é esse o objectivo na cabeça de Kafka: deixar o leitor desconfortável.

O extraordinário não é a situação irreal da transformação de um homem em insecto. É a sucessiva exclusão que a sua família vai fazendo à medida que se adaptam a esta nova realidade. Ao ponto do abandono.

Interpretar este livro afigura-se particularmente complicado. Julgo que podemos seguir duas vias: comparamos o insecto a um doente e toda a atenção que, de repente, noutra condição, temos que despender. Comparamos o insecto a qualquer tipo de exclusão e o mal que isso acarreta.

Não aconselho 'Metamorfose' a qualquer leitor, mesmo sendo o livro preferido de muita gente. No entanto, como qualquer livro de Kafka, está presente toda a ironia e sarcasmo da condição humana.

Observar o homem-insecto a transformar-se e a adaptar o seu estilo de vida, é notável. Mas, ao mesmo tempo, revelador da nossa frágil natureza.

4 comentários:

  1. Só quem passou por um relacionamento pesado como o que ele vivenciou com o tirano do pai (ler Cartas a Meu Pai, de Kafka) pode escrever (se tiver a sorte de ter talento) sobre o tema da rejeição com tanta maestria! Não achei o livro repugnante e nem achei que ele quis deixar o leitor desconfortável. Acredito que escrevia para se libertar dos demônios que habitavam sua alma, e ele teve o inferno inteiro ardendo dentro de si. Kafka, Fernando Pessoa e Proust são os meus escritores do coração!

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  2. Entrar nas intenções dos autores é sempre complicado.
    Não sei se o Pai do Kafka influencia tanto o autor. Também li 'Cartas a meu Pai'. Mas não associo este livro a essa relação.
    Acredito que há algo de perverso no escritor. Muito além daquilo que o possa influenciar. Daí esta sensação de 'desconforto' que falo.

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  3. Foi uma das minhas leituras preferidas, apesar de reconhecer que muitos leitores acham este livro repugnante. Eu aconselho vivamente!

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  4. Ao contrário de todos vós, não reconheço ao Kafka o mérito que lhe é atribuído no mundo da literatura. E esta obra não é excepção. Não achei demasiado repugnante nem me causou desconforto. Para mim, é simplesmente um livro que recordo pela atipicidade mas que não marca.

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