terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Tenho tanto sentimento

Não param de me enviar poemas de Fernando Pessoa...
E eu não me canso de os publicar!


'Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

E enquanto a vamos pensando
Enquanto a vamos vivendo
Divididos entre errada e verdadeira
O tempo vai passando.
E os anos vão roubando
Tanto tempo sem viver
Que a vida que a gente tem
Se é a que tem que pensar
Nem sempre é a que quer ter.'

3 comentários:

  1. E enquanto a vamos pensando
    Enquanto a vamos vivendo
    Divididos entre errada e verdadeira
    O tempo vai passando.
    E os anos vão roubando
    Tanto tempo sem viver
    Que a vida que a gente tem
    Se é a que tem que pensar
    Nem sempre é a que quer ter.

    Isabel

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  2. Pessoa deixa-me sempre angustiado. A verdade é que me pergunto: teria ele alguma vez sentido realmente alguma coisa? Ou, grande malabarista, fingiu sempre sentir? Ou seja: acreditou ele alguma vez em alguma coisa?

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  3. É muito difícil ter a certeza se, de facto, Pessoa sentiu tudo aquilo que escreveu... Mas, como ele próprio afirma, 'o poeta é um fingidor'.

    Um Homem que não é um, mas vários ao mesmo tempo. Que tem uma personalidade tão obscura.

    É estranho, não sei o que responder, Manuel.

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