segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Se isto é um homem - Porquê?

Desculpem, não fui eu que o escolhi, foi ele que me escolheu. E sim, já viram isto acontecer nalgum lado, mas é que eu acho que ele queria mesmo vir para este blog...

Se isto é um homem tem sido muito paciente comigo. Está na minha estante há demasiados meses e, por um motivo ou por outro, teve sempre que ficar para mais tarde. No entanto, há umas semanas decidi: "És o próximo!"
Quando o Rodrigo propôs que eu escolhesse o livro do mês de Dezembro, pensei que teria que adiar, uma vez mais, o meu encontro. A coisa boa dos livros é que eles nunca se aborrecem com estes percalços, mas acabam por adquirir uma autoridade moral- basicamente, fico sempre com a sensação que lhes falhei! Olhei para a lombada com dúvida e pena antecipada, mas a lombada devolveu-me um olhar muito vertical.
Em boa verdade, receava anunciar este livro por pensar que a maioria das pessoas já o tinha lido. Pensei também que talvez não fosse o mais adequado pelo carácter de relato, mais do que de peça literária, que encerra. No entanto, não demorei a perceber que ele já tinha ganho a ilustre corrida dos livros da estante da Carla quando reparei que também o Rodrigo já tinha sido escolhido por ele.

E como é que ele chegou à minha estante?
Eu tenho as melhores referências desta obra, dadas pelas pessoas da minha maior confiança literária. Tenho igualmente um interesse histórico, acrescido de uma curiosidade mórbida acerca de todos os pormenores que penso que irei lá encontrar. Há uns anos estive em Auschwitz e quero chocar-me uma vez mais, com mais distância mas com mais intimidade. Resumindo, é, para mim, um cocktail de obrigatoriedades.

E foi assim que ele encontrou o caminho pra cá.

E porque acredito no poder de sedução dele, vou-me calar e pô-lo a dizer as suas primeiras palavras:
Fui capturado pela Milícia fascista a 13 de Dezembro de 1943. Tinha vinte e quatro anos, pouco bom senso, nenhuma experiência e uma acentuada inclinação, favorecida pelo regime de segregação ao qual desde há quatro anos fora obrigado pelas leis raciais, para viver num mundo só meu, pouco real, povoado por civilizados fantasmas cartesianos, por sinceras amizades masculinas e por amizades femininas evanescentes. Cultivava um moderado e abstracto sentido de rebelião.

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